Considerações sobre Nomes e Ordenanças
Marcus
H. Martins, Ph.D.
Ensaio
Postado na Mídia Social - 2018
Introdução
Este
artigo é uma resposta a comentários feitos no Facebook
sobre minha curiosidade quanto ao uso, por algumas famílias SUD
no Brasil, da palavra "apresentação" ao se referir
à "ordenança de dar nome e bênção a
crianças".
Meu
interesse nesse assunto começou como uma mera curiosidade
acadêmica. Ontem eu vi nisso apenas mais um fenômeno
sociológico. Entretanto, logo depois de acordar nesta
manhã de domingo (21 de Janeiro de 2018),
enquanto vasculhava os meus "bancos de memória" para programar
minhas atividades do dia, pensamentos mais eclesiásticos e
doutrinários me vieram à mente, e aí o
sociólogo teve que ceder o cérebro ao sumo sacerdote. O
resultado é esta postagem.
O Conselho da Primeira
Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos é
o órgão deliberativo e regulamentador mais elevado na
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
É este conselho que aprova o conteúdo do Manual de
Instruções da Igreja. Com pouquíssimas
exceções, líderes locais e membros não
estão autorizados a modificar a terminologia oficial utilizada
nos manuais de instrução.
Vejo com uma certa
preocupação especialmente aqueles casos que involvam a
introdução de palavras e termos religiosos criados por
homens e mulheres do mundo, bem-intencionados e sábios aos olhos
do mundo, mas que não possuem nem o sacerdócio divino nem
o Dom do Espírito Santo.
Daí a minha curiosidade
quanto ao uso da palavra "apresentação" ao se referir
à "bênção"--a "ordenança de dar nome
e bênção a crianças". Neste ponto eu
suponho que alguns já podem estar pensando: "Ah, Irmão Martins .. lá vem você inventando problemas!" Mas aguente aí ...
O
Profeta Joseph Smith ensinou o seguinte: "As ordenanças
instituídas nos céus antes da fundação do
mundo, no sacerdócio, para a salvação dos homens,
não devem ser alteradas nem mudadas. Todos precisamos ser salvos
pelos mesmos princípios." (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.439)
Eu
proponho que até mesmo os nomes das ordenanças do
sacerdócio não devem ser mudados, pois estas
ordenanças--incluindo seus nomes e procedimentos--foram
recebidas por revelação. Os nomes das
ordenanças trazem à mente mortal certas
"impressões" a respeito dos propósitos divinos para a
realização de tais rituais. Por causa disso, não
chamamos o batismo de "mergulho", nem o sacramento de "ceia" ou
"lanchinho".
Voltando à ordenança de dar nome e
bênção a crianças, me permitam alguns
pensamentos adicionais, para serem "saboreados" lenta e calmamente.
Aprendemos
na Casa do Senhor que os nomes que recebemos de nossos pais terrenos
podem ser reutilizados para propósitos sumamente sagrados,
envolvendo poder e honrarias celestiais cuja extensão e
consequências eternas não podem ser plenamente concebidos
ou avaliados pela mente mortal.
A bênção de
uma criancinha é a ordenança precursora das
ordenanças futuras que aquela criança poderá
receber no Templo sagrado quando se tornar um jovem homem ou mulher com
mais de 18 ou 19 anos de idade.
Os pais usam sua criatividade e
às vezes inspiração para escolher nomes para seus
filhos. Uma certidão de nascimento expedida por um oficial do
governo registra o nome de uma criança diante do governo do
país. A ordenança de dar nome e
bênção oficiada por um portador do
Sacerdócio de Melquisedeque, junto com um certificado expedido
pelo bispado ou presidência do ramo (Doutrina & Convênios 128:9),
registra o nome de uma criança no reino de Deus na terra.
Eventualmente, através das ordenanças da Casa do Senhor
oficiadas pelo Sacerdócio de Melquisedeque, o nome de uma
criança (agora adulta) fica registrado no "... livro de nomes
dos santificados, sim, os do mundo celestial." (D&C 88:2)
Em
resumo, a ordenança que oficiamos para as nossas criancinhas
é muito, muito mais do que uma mera
"apresentação", e o uso desse termo, em minha
opinião, não é necessariamente "errado". Contudo,
ele não descreve a ordenança corretamente, nem revela
à mente a verdadeira natureza da mesma, tanto no tempo como na
eternidade.
P.S.: Quase esqueci ... sacudir o bebê
também não faz parte da ordenança. E se o
bebê chorar, sacudir só vai piorar a
situação.
Marcus
H. Martins é professor de religião e
liderança e ex-decano de educação
religiosa na Brigham Young University-Hawaii. Ele escreveu o livro
"Setting the Record Straight: Blacks and the Mormon Priesthood"
("Fazendo o Registro Correto: Negros e o Sacerdócio
Mórmon") e o
manuscrito "The Priesthood: Earthly Symbols and Heavenly Realities" ("O
Sacerdócio: Símbolos Terrenos e Realidades
Celestiais"). Ele discursou
em conferências e eventos nos Estados Unidos (onde vive desde
1990),
Brasil, China, Inglaterra, Hong Kong, Japão,
Malásia, Ilhas Marshall,
Portugal, Catar e Cingapura. O irmão Martins ingressou na
Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em 1972 e tornou-se
o primeiro
santo dos últimos dias com ascendência negra
africana a servir uma
missão de tempo integral após a
Revelação de 1978. Ele serviu duas
vezes como bispo, sete vezes como sumo conselheiro de estaca,
três
vezes como oficiante do templo, tradutor do Livro de Mórmon
e
presidente da Missão Brasil São Paulo Norte com
sua esposa, Mirian
Abelin Barbosa. O casal tem quatro filhos e oito netos.
Copyright -
Marcus H. Martins, 2018