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A Doutrina do Sacerdócio e Questões de Gênero
Marcus H. Martins, Ph.D.

Apresentado num forum de professores de religião na
Brigham Young University - Provo, Utah - 25 Fevereiro 2016




Quando eu tinha 16 anos meu pai me instruiu a aprender a realizar as ordenanças do Sacerdócio Aarônico--o batismo por imersão, a administração do sacramento, e o conferimento do Sacerdócio Aarônico.  Embora naquele momento, em 1975, ele e eu não pudéssemos portar o sacerdócio, meu pai ainda assim me disse para estudar as ordenanças, porque, como ele disse, "Isso é o que um jovem de 16 anos de idade deve aprender na Igreja nessa idade."  Assim começou meu estudo do sacerdócio, suas ordens, ofícios, chaves, ordenanças, direitos, etiqueta, e bênçãos.

Meu pai e eu recebemos o sacerdócio em 1978, dez dias após o anúncio da revelação de que reinstituiu a ordenação ao sacerdócio para homens santos dos últimos dias com ascendência africana negra.  Desde então, tive a honra de servir várias vezes em designações de liderança do sacerdócio, o que fez meus estudos tornarem-se ainda mais significativos para mim.  Depois de quatro décadas eu ainda estou estudando, mas o que eu aprendi até agora me trouxe muito esclarecimento e satisfação.

Delineando a Doutrina do Sacerdócio
O Livro de Mórmon contém declarações precisas que definem os componentes principais da doutrina de Cristo--fé em Jesus Cristo, arrependimento, batismo por imersão, a imposição das mãos para o dom do Espírito Santo, e perseverança na obediência aos mandamentos de Deus até o fim (2 Néfi 31: 10-21; 3 Néfi 11: 31-39).  Por outro lado, o termo "doutrina do sacerdócio" é encontrado apenas uma vez nas escrituras atualmente disponíveis, em uma carta inspirada do profeta Joseph Smith à Igreja registrada como seção 121 de Doutrina & Convênios.  Mas, ao contrário da doutrina de Cristo, essa única instância não é uma afirmação direta definindo a doutrina do sacerdócio.

No entanto, através das revelações dadas ao Profeta Joseph Smith registradas principalmente em Doutrina & Convênios e em alguns de seus sermões inspirados, podemos identificar certos componentes da doutrina do sacerdócio.  Através dessas revelações e ensinamentos, aprendemos o seguinte:
Então, o que compreendemos sobre o sacerdócio, com base em revelações dos últimos dias?

O sacerdócio é uma investidura concedida aos homens em todas as eras do mundo, pelo qual eles podem acessar e manipular os poderes do céu (D&C 121:36) para agir em nome de Deus na obra divina de salvação.  Organizado em ordens (como "departamentos") e ofícios correspondentes, e treinados em quóruns e grupos, portadores do sacerdócio podem realizar trabalhos, oficiar e administrar ordenanças e seus convênios associados, e todas as outras coisas necessárias para a salvação eterna da família humana na presença de Deus.

Depois de quase dois milênios de apostasia, o sacerdócio foi trazido de volta à terra em nossa época por mensageiros celestiais (D&C 13; 27:8, 12) agindo em nome e com a autoridade de Jesus Cristo.  O sacerdócio foi, é, e sempre será necessário para o estabelecimento e governo da Igreja de Jesus Cristo em qualquer era da história humana.  A obra de salvação não pode ser implementada sem o sacerdócio, porque somente por meio das ordenanças do sacerdócio pode o poder da divindade se manifestar para a bênção, salvação, e exaltação da família humana (D&C 84:19-21).

O sacerdócio é conferido por meio do poder do Espírito Santo (D&C 20:60), e é através do poder do terceiro membro da Trindade que aqueles ordenados a ofícios no sacerdócio podem oficiar em nome do Senhor (2 Néfi 32:9; Moroni 3:1-4). Como o poder do Espírito Santo é constante, incessante, ou sempre disponível, sempre que um portador do sacerdócio age dignamente e de forma adequada dentro de seu ofício designado, ele se conecta com o poder celestial e obtém a autoridade necessária para executar o que o Senhor achar apropriado.  E se um registro adequado de tal desempenho for mantido, o efeito desse ato transcenderá tempo e espaço, e será validado nos céus (D&C 128:9).

O sacerdócio emana dos mundos eternos--regiões imortais e glorificadas onde a nobreza dos céus se engaja no trabalho infindável de organizar, rebaixar, redimir, e glorificar mundos sem fim e seus inúmeros ocupantes, sejam eles espíritos, seres humanos mortais, seres humanos transladados, ou as inúmeras formas de vida animal e vegetal.  O poder do sacerdócio está em toda parte e governa todas as coisas (D&C 88:13).  Na terra, quando exercido em retidão, sua autoridade permite a manipulação dos poderes do céu (D&C 121:36)--os poderes que dão e governam a vida, a luz, e permitem que seres divinos, e aqueles seres mortais autorizados e inspirados a agir em seu nome com fé, exerçam controle sobre o espaço, a matéria e, possivelmente, o próprio tempo, de acordo com a vontade de Deus (Helamã 12:8-17; 3 Néfi 26:3; D&C 121:12; Abraão 2:8).  A mais elevada e mais sagrada expressão do poder e autoridade do sacerdócio é encontrada na criação, redenção e glorificação de todas as formas de vida--especialmente na criação, redenção e exaltação da vida humana (D&C 88:17-20, 25-26; 77:2-3).

A Igreja, o Templo, e o Reino
Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, encontramos duas das ordens do sacerdócio--o Sacerdócio de Melquisedeque e seu apêndice, o Sacerdócio Aarônico, que inclui o antigo Sacerdócio Levítico (D&C 107:1). Com esses sacerdócios a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias se torna um repositório terreno--e seus líderes os guardiões--das chaves do sacerdócio, definidas como o direito de presidir e as autoridades necessárias para destravar bênçãos e privilégios adicionais. Estas são as chaves do Reino de Deus na terra, que podemos entender como sendo a agência baseada no sacerdócio que comanda a organização temporal, governo, e salvação da terra.

Como fez nos tempos antigos, o Senhor tem inspirado seus profetas dos últimos dias a estabelecer sua casa sagrada, o templo, com as suas ordenanças e padrões, dirigidos e realizados pela autoridade do sacerdócio.  A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a porta de entrada para a casa do Senhor, e por meio de suas reuniões, aulas e atividades, a Igreja prepara os indivíduos e as famílias para serem dignos de entrar no templo e receber o conhecimento, ordenanças, e convênios necessários para, num dia futuro, permitir-lhes ganhar admissão no reino dos céus.

No templo homens e mulheres santos dos últimos dias fiéis reencenam rituais sagrados simbólicos, performances, ordenanças, e fazem convênios sagrados, todos concebidos para conceder-lhes ou investi-los com o conhecimento necessário para estarem preparados para entrar na mais alta ordem do sacerdócio.  Eventualmente, quando um homem e uma mulher se apaixonam e tornam-se marido e mulher selados para o tempo e eternidade pela autoridade do sacerdócio na casa do Senhor, eles entram juntos na mais alta ordem do sacerdócio: o novo e eterno convênio do casamento (D&C 130:2), também conhecido como a divina ordem patriarcal.  Através da admissão à esta ordem, muitas bênçãos e direitos do sacerdócio são transmitidos através de sua linhagem familiar direta (Abraão 2:9, 11).

Esta mais alta ordem do sacerdócio não é exercida em reuniões e atividades da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mas pode ser exercida de forma limitada no lar.  A noite familiar e os conselhos de família podem ser entendidos como "reuniões do sacerdócio da ordem patriarcal", enriquecidos, assim esperamos, por doutrinas e princípios ensinados nas aulas semanais fornecidas pelos quóruns e organizações auxiliares da Igreja.

Todas as coisas de significado e efeito eternos são encontradas e baseadas no conhecimento, ordenanças, e convênios ensinados e administrados na casa do Senhor.  Daí a centralidade da freqüência e adoração no templo na vida religiosa dos santos dos últimos dias.

Na terra o sacerdócio tem diferentes ordens (como "departamentos"), quóruns e grupos, e também organizações auxiliares, responsáveis pela implementação e desempenho de vários elementos da fase mortal do plano divino de salvação: a pregação da palavra de Deus, a administração de convênios sagrados através de vários rituais simbólicos, ou ordenanças, e outras bênçãos--tanto materiais como espirituais--necessárias para a saúde e o bem-estar mortal.  É concebível que possam existir ordens adicionais do sacerdócio ainda a serem reveladas, mas seja lá quantas venham a existir, todas elas são projetadas para enobrecer, salvar e glorificar tantos membros da família humana quanto aceitem as leis, convênios, e ordenanças divinos. O Presidente Brigham Young explicou o seguinte a respeito do sacerdócio:
"O Sacerdócio de Deus, que foi dado aos antigos e é dado aos homens nos últimos dias, é co-igual em duração com a eternidade ... É imutável em seu sistema de governo e em seu Evangelho de salvação. Ele dá aos Deuses e aos anjos a sua supremacia e poder, e oferece riqueza, influência, posteridade, exaltações, poder, glória, reinos e tronos, incessantes na sua duração, a todos que os aceitarem nos termos em que são oferecidos. " (Discursos de Brigham Young, p.49)
Uma vez que o sacerdócio é recebido e opera em conjunto com o poder do Espírito Santo (D&C 20:60; 121:45-46), o ensinamento do Élder Parley P. Pratt sobre o efeito do dom do Espírito Santo sobre a mente e emoções humanas pode muito bem descrever como os "princípios de retidão" da doutrina do sacerdócio podem ser ativados e reforçados numa pessoa mortal:
"Um ser inteligente, à imagem de Deus, possui cada órgão, atributo, sentido, simpatia, afeto, vontade, sabedoria, amor, poder e dom, que são possuídos pelo próprio Deus. Mas estes são possuídos pelo homem em seu estado rudimentar ... Ou em outras palavras, esses atributos estão em embrião; e devem ser gradualmente desenvolvidos. ...

"O dom do Santo Espírito adapta-se a todos estes órgãos ou atributos. Ele vivifica todas as faculdades intelectuais, aumenta, alarga, expande e purifica todas as paixões e afeições naturais; e as adaptam, pelo dom da sabedoria, ao seu uso legítimo. Ele inspira, desenvolve, cultiva e amadurece todas as simpatias, alegrias, gostos, sentimentos afins e afeições mais refinados da nossa natureza. Ele inspira virtude, benignidade, bondade, ternura, gentileza e caridade." (Key to the Science of Theology, pp.100-101)
A Interação entre o Corpo, o Espírito, e o Sacerdócio
O corpo é a primeira mordomia que recebemos quando entramos na mortalidade, e muitos dos principais aspectos do plano de salvação dependem do uso virtuoso do corpo.  Algumas de nossas atividades terrenas são destinadas a manter a saúde física, mental, e emocional do corpo.  Da mesma forma, o corpo também é necessário para realizar rituais que retratam "sombras e protótipos" daquelas funções necessárias para a vitalidade de nossos espíritos imortais.

O Senhor pouco revelou a respeito da interação entre o corpo e o espírito, mas é claro que existe uma interação poderosa e constante, que causa efeitos mútuos que podem ser reconhecidos mais claramente depois que a pessoa tiver sido batizada com água e fogo (Moisés 6:64-65).  Adicione-se o poder do sacerdócio à essa combinação de corpo humano, espírito humano, e o poder do Espírito Santo, e teremos algo maior do que a soma de suas partes: além de ser meramente uma alma viva, a pessoa pode tornar-se um santo, como explicado por um mensageiro celestial:
"... [O] homem natural é inimigo de Deus ... a não ser que ceda ao influxo do Espírito Santo, e despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor, e torne-se como uma criança, submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que infligir, assim como uma criança se submete a seu pai." (Mosias 3:19)
Alguns têm lutado em suas tentativas de viver os princípios, mandamentos e padrões do evangelho restaurado, mas uma vez que eles entendam o que realmente está acontecendo, essa luta pode ser percebida mais como um privilégio do que um fardo. O plano divino eleva lentamente os filhos e filhas de Deus de meros homens e mulheres a um estado de santificação.

No futuro, por meio da perseverança fiel após o recebimento de ordenanças terrenas, esses filhos e filhas santificados serão elevados ainda mais através do poder da ressurreição a um estado glorificado de divindade.  Assim, o desafio que enfrentamos é o de "...deixar as coisas deste mundo e buscar as coisas de um melhor" (D&C 25:10). Ou, colocando em um linguajar diferente, deixar de lado certos aspectos da nossa humanidade e abraçar primeiro a santidade, e um dia, a divindade.

A Inevitabilidade do Sacerdócio
Outro aspecto da doutrina do sacerdócio digno de elaboração é o fato de que o poder do sacerdócio é universal, e suas leis divinamente instituídas são imutáveis e inevitáveis. As revelações declaram o seguinte:
"A todos os reinos se deu uma lei; E há muitos reinos; pois não existe espaço em que não haja reino; e não existe reino em que não haja espaço ... E a todo reino é dada uma lei; e toda lei também tem certos limites e condições. Todos os seres que não se conformam a essas condições não são justificados." (Doutrina e Convênios 88:36-39).
Posteriormente o Profeta Joseph Smith elaborou sobre este ponto dizendo o seguinte:
"A organização dos mundos espirituais e celestes e dos seres espirituais e celestes foi feita de acordo com a mais perfeita ordem e harmonia: seus limites e termos foram irrevogavelmente determinados e voluntariamente aceitos por eles próprios, no estado celeste, e também por nossos primeiros pais na Terra. Por isso é importante que todos os homens aqui na Terra que esperam alcançar a vida eterna aceitem os princípios da verdade eterna e se submetam a eles." (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.222)
As leis e os princípios do sacerdócio foram estabelecidos éons atrás em esferas mais elevadas e mais santas--ambientes além da concepção mortal nos quais Deus opera e onde ele "...compreende todas as coisas e todas as coisas estão diante dele e todas as coisas estão ao seu redor; e ele está acima de todas as coisas e em todas as coisas e através de todas as coisas e ao redor de todas as coisas; e todas as coisas existem por ele e dele, sim, Deus, para todo o sempre" (D&C 88:41).  Devido a esta origem imortal e glorificada, não é de admirar que certas leis e princípios da doutrina do sacerdócio podem parecer "difíceis" de serem compreendidos e subscritos por mortais acostumados com pontos de vista e filosofias comprometidos pelas limitações naturais da mortalidade.

A correta compreensão da nossa verdadeira natureza como seres humanos depende da correta compreensão da natureza imutável do próprio Deus e da natureza inevitável dos poderes pelos quais a vida humana é criada e governada.  O Profeta Joseph Smith declarou:
"Quero voltar ao princípio--à manhã da criação. Lá está o ponto de partida para olharmos, a fim de compreendermos e ficarmos totalmente familiarizados com a mente, propósitos e decretos do Grande Elohim ... É necessário termos uma compreensão do próprio Deus no princípio. Se começarmos corretamente, é fácil ir corretamente o tempo todo; mas se começarmos errado, podemos continuar errados, e será difícil acertar. ...

"Se o homem não compreende o caráter de Deus, não compreende a si mesmo. Quero voltar ao princípio e assim erguer sua mente a uma esfera mais elevada e a uma compreensão mais sublime do que aquelas às quais a mente humana geralmente aspira." (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p.343; Ensinamentos dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.43)
As leis divinas estabelecidas pelo sacerdócio, e as virtudes e princípios de retidão deles derivados, desafiam a humanidade a olhar para o céu, para "uma esfera mais elevada," e, lentamente, começar a conceber a sua verdadeira natureza como prole eterna da divindade.  O convite do Profeta Moroni: "...vinde a Cristo, sede aperfeiçoados nele e negai-vos a toda iniqüidade ..." (Moroni 10:32) significa precisamente o propósito final do sacerdócio na terra--elevar a humanidade na direção da divindade.

Questões de Gênero, à Luz da Doutrina do Sacerdócio
Talvez alguns dos temas contemporâneos mais sensitivos na sociedade estão relacionados com gênero (i.e. masculino ou feminino), que nas últimas décadas foram trazidos para o primeiro plano de muitos debates políticos, legais e sociais.  Após o foco nos direitos das mulheres e a igualdade das mulheres na vida econômica e política, agora vemos um foco na reafirmação dos direitos de cidadania de homossexuais e transgêneros.

Como a doutrina do sacerdócio lançaria luz sobre estas preocupações?

As Mulheres e o Sacerdócio
Em algumas das primeiras revelações nesta dispensação o Senhor indicou que um passo necessário para o estabelecimento de seu reino na terra era que o povo precisava ser "investido de poder do alto" por meio das ordenanças da Casa do Senhor, o templo (D&C 38:38; 43:16; 105:11-12).

Todo santo dos últimos dias digno, homem ou mulher, que recebe a sua própria investidura recebe simbolicamente esse "poder do alto", que será usado para fortalecer a capacidade da pessoa de guardar os mandamentos de Deus e ser um discípulo de Jesus Cristo mais refinado e eficaz.  Praticamente as mesmas ordenanças que homem fiel recebe no templo, serão recebidas por uma mulher fiel.  Assim, as ordenanças da casa do Senhor funcionam como um grande equalizador entre os dois sexos, concedendo as mesmas bênçãos e honras, e uma igual promessa de exaltação, para homens e mulheres.

Ao nos concentrarmos na expressão "investidos de poder do alto," nossas mentes, eventualmente, chegam à ideia de que o principal "poder do alto" é o sacerdócio de Deus.  Assim, podemos compreender corretamente que quando uma mulher santa dos últimos dias fiel recebe sua própria investidura, ela recebe o sacerdócio de Deus, mas com uma diferença significativa: ela não é ordenada a qualquer dos ofícios do sacerdócio na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias.

Pode-se perguntar como isso pode acontecer. O processo foi descrito em uma visão dada ao Presidente Joseph F. Smith, em 1918, na qual ele viu que os espíritos dos justos foram organizados, designados como mensageiros, e "vestidos de poder e autoridade" (D&C 138:30 – No original em Inglês, "clothed with power and authority").  Nós encontramos um processo semelhante na casa do Senhor.  Esta é parte da restauração da "antiga ordem das coisas", como o Profeta Joseph Smith a chamou (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.436), visto que vestimentas especiais eram usadas simbolicamente nos tempos antigos para representar autoridade e investiduras sacerdotais (Êxodo 40:13-14).

Quando mulheres santas dos últimos dias fiéis recebem suas próprias ordenanças do templo, elas também são simbolicamente vestidas de poder e autoridade, que é a natureza da investidura.  No entanto, uma vez que estas mulheres fiéis não são ordenadas a nenhum dos ofícios do sacerdócio na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, elas não podem oficiar as ordenanças de salvação da Igreja--batismo, confirmação, sacramento, etc.

Por outro lado, podemos dizer que o templo e a Igreja são "departamentos separados e desiguais" no reino de Deus, considerando que eles são regulamentados por padrões diferentes. A Igreja constrói e mantém templos, mas os templos operam com padrões e regulamentos muito mais elevados e mais rigorosos do que aqueles empregados em capelas da Igreja.

E assim é que, enquanto na Igreja as mulheres não são ordenadas a ofícios no sacerdócio, em um templo elas podem ser devidamente recomendadas e designadas para exercer o sacerdócio--ou aquele "poder do alto" que elas receberam em sua própria investidura--e oficiar algumas das ordenanças da casa do Senhor.  Portanto, mulheres santas dos últimos dias fiéis que sintam o desejo de prestar serviço através da realização de ordenanças do sacerdócio pela imposição das mãos, podem consultar seus bispos e inquirir sobre como tornarem-se oficiantes de ordenanças no templo.

A doutrina do sacerdócio expande nossa compreensão e apreciação do papel vital e sagrado das mulheres no plano de salvação do Senhor.  Embora as mulheres não sejam ordenadas a ofícios no sacerdócio na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ainda assim podemos afirmar de forma adequada que elas possuem a chave da mais elevada e mais sagrada característica da divindade--a criação e educação de uma nova vida mortal.  Na verdade, muitas vezes eu me pergunto se a maternidade não poderia um dia ser revelada como sendo uma ordem adicional do sacerdócio.

Vendo isso como uma possível chave do sacerdócio, inevitavelmente, nos levaria a uma visão mais elevada e mais sagrada da feminilidade, e a elevar as mulheres a "uma esfera mais elevada," (usando as palavras de Joseph Smith).  Nesta esfera mais elevada a sacralidade inerente de uma mulher seria demonstrada simbolicamente pelo fato de ela ser "coberta".  Ao invés de menosprezante, sob este ponto de vista aquele gesto simbólico seria enobrecedor e exaltante.

Através do ministério da palavra de Deus as mulheres também ajudam outros a "... [desfrutar] as palavras da vida eterna neste mundo e a vida eterna no mundo vindouro, sim, glória imortal" (Moisés 6:59; colchetes adicionados).  Por este meio, mesmo aquelas mulheres que não forem abençoadas com a capacidade de trazer filhos para a vida mortal, ainda poderão receber o título elevado de "Mães em Israel", trazendo "filhos de criação" para a vida eterna.

Mais adiante, no futuro, podemos imaginar mulheres glorificadas nutrindo seres recém-ressuscitados que morreram quando ainda criançinhas, e permitindo a exaltação e vida eterna de outras mulheres.  A doutrina do sacerdócio, quando apropriadamente compreendida, eleva as mulheres a um status reverenciável no reino de Deus.

O Casamento e as Uniões do Mesmo Sexo
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias apoia a idéia de que a cidadania ou os direitos constitucionais devem ser afirmados para todos, quando se referem a habitação, emprego, saúde e outros aspectos puramente seculares da vida em uma sociedade.  No entanto, várias sociedades modernas decidiram recentemente que os direitos de cidadania também devem incluir o direito ao casamento do mesmo sexo.

Tal idéia só poderia ser considerada consistente sob uma abordagem puramente secular, focalizando unicamente no direito constitucional de acesso aos serviços do governo. Ou, em outras palavras, se alguém secularizasse, redefinisse e degradasse a instituição do casamento ao nível de um simples "serviço governamental", então poderia ser justificado dizer que nenhum contribuinte deveria ser privado desse serviço público.  E sob essa abordagem exclusivamente secular, a posição da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias sobre casamento e família seria difícil de entender, e para alguns, indefensável.

Mas é precisamente aqui que a doutrina do sacerdócio nos permite compreender a posição firme da Igreja sobre esta questão.  Se Deus não existe, então a expressão de qualquer desejo, apetite, ou paixão humanos poderia ser defendida sob a bandeira dos direitos individuais.  Mas, no fundamento da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, encontramos o testemunho do Profeta Joseph Smith de que os céus se abriram e que na verdade existe um Deus, um ser real, tangível, com um corpo imortal e glorificado de carne e ossos, que é o Pai Eterno de nossos espíritos.  Esse testemunho nos leva a entender que existem aspectos da nossa experiência humana que são divinamente estabelecidos, e que não podem ser alterados pelas volúveis leis e costumes da sociedade.

Algum tempo atrás eu escrevi o seguinte em um ensaio publicado online:
"Aqui vemos uma das grandes diferenças entre as filosofias do mundo e as doutrinas do evangelho restaurado de Jesus Cristo. As teorias científicas atuais, baseadas em ferramentas imperfeitas e limitadas, só conseguem ver o ser humano como uma forma superior de vida animal. As revelações recebidas das cortes de glória eterna por profetas de Deus nos levam, pela fé, a ver o ser humano como uma forma inferior de vida divina.

Por outro lado, os poderes e capacidades do corpo podem ser utilizados de formas não inteiramente em harmonia, ou até contrárias às leis e princípios divinos. Ao fazer isso uma pessoa descobre sensações físicas e emoções exageradas que,ainda que "agradáveis" ao corpo, não elevam a pessoa, não constroem um alicerce para a eternidade, e em alguns casos reduzem a pessoa a um mero servo de desejos, apetites, e paixões que por decreto divino devem ser mantidos dentro de certos limites estabelecidos por Deus." (Martins, "O Corpo: Primeira Mordomia & Liahona do Espírito", 2014).
O corpo tem tremendos poderes físicos e intelectuais, apetites, e paixões que precisam ser adequadamente controlados, e existem formas divinamente ordenadas para controlar o corpo humano e as suas capacidades.  Uma vez que cada capacidade humana deve ser expressada com moderação, como pode alguém descobrir esses limites divinamente estabelecidos?  Mais uma vez, nas palavras do Élder Parley P. Pratt, "O dom do Santo Espírito adapta-se a todos estes órgãos ou atributos.  Ele vivifica todas as faculdades intelectuais, aumenta, alarga, expande e purifica todas as paixões e afeições naturais; e as adaptam, pelo dom da sabedoria, ao seu uso legítimo." (Key to the Science of Theology, p.101)
    
Ainda há muito a ser compreendido cientificamente sobre as funções fundamentais do cérebro humano--que em última análise gera e controla os desejos, apetites e paixões do corpo.  No entanto, o que quer que venha a ser descoberto no futuro, podemos estar certos de que a doutrina do sacerdócio, quando apropriadamente compreendida, poderá nos guiar com segurança no exercício do nosso arbítrio para usar o corpo de maneiras que estarão em harmonia com as leis eternas divinamente designadas.

"Duro é Este Discurso; Quem o Pode Ouvir?" (João 6:60)
As estipulações do plano divino de salvação sempre têm sido desafiadoras para muitos no mundo.  Por exemplo, o Apóstolo João registrou que, após o Salvador Jesus Cristo ter proferido o seu sermão "o Pão da Vida", alguns dos discípulos acharam os ensinamentos do Salvador "duros" e "Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele." (João 6:66)

Esse tipo de resposta negativa não deve ser visto como incomum, porque mesmo no ambiente pré-mortal, antes da fundação desta terra, um terço dos espíritos designados para esta terra também rejeitou certas condições do plano divino de salvação e partiram--para nunca mais voltar, e os céus prantearam por eles (D&C 76:26).

Mas, em seu ministério mortal, o Salvador fez uma pergunta significativa, que ensinou seus discípulos fiéis a confiar em seu testemunho dele e de seu evangelho:
"Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?

"Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna." (João 6:68-69)
E assim é conosco hoje em dia.  As estipulações do plano de salvação continuam a desafiar muitos pelo mundo a fora.  Alguns dos nossos queridos irmãos e irmãs têm encontrado dificuldade em colocar de lado suas inclinações sócio-políticas e filosóficas a fim de abraçar plenamente a posição da Igreja sobre o casamento e a família. Pessoalmente, eu acredito que a dificuldade pode ser baseada em ainda não terem compreendido as vistas gloriosas e enobrecedoras oferecidas pela doutrina do sacerdócio concernente ao casamento e à família.

Que o bom Senhor abra olhos e toque corações, de modo que a doutrina do sacerdócio destile nas almas das pessoas, e elas se qualifiquem para um dia entrar na glória de seu Pai Eterno.



Marcus Helvécio Martins serviu como Decano de Educação Religiosa na Universidade Brigham Young-Havaí. Ele é o autor do livro "Setting the Record Straight: Blacks and the Mormon Priesthood" ("Fazendo o Registro Correto: Negros e o Sacerdócio Mórmon"), e serviu como presidente de missão, duas vezes como bispo, sete vezes como membro de sumo conselhos de estaca, e três vezes como oficiante do templo. Ele e sua esposa Mirian são pais de quatro filhos e avós de oito netos.

As opiniões e interpretações incluídas nesta monografia são de responsabilidade do autor, e não devem ser consideradas declarações oficiais da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Copyright - Marcus H. Martins, 2016