Selos e o Selamento pelo Santo Espírito da Promessa
Marcus
H. Martins, Ph.D.
Ensaio
Postado na Mídia Social - 2017
Atualizado em 2020
Pergunta
"Minha
dúvida é a respeito do poder selador do
Sacerdócio. Já ouvi dizer que a única
bênção dada pelos portadores do Sacerdócio
fora do templo e que leva o selo do Sacerdócio é a
Bênção Patriarcal. No Templo temos os
seladores--meu saudoso pai era um Selador e Patriarca ordenado--que
realizam as ordenanças do selamento cujas
bênçãos se realizam pela fidelidade de quem a
recebe, bem como a Bênção Patriarcal.
"Quando
damos ou ministramos bênçãos aos enfermos, na
segunda parte dizemos que estamos selando a unçāo feita pela
autoridade do Sacerdócio de Melquisedeque. Existe alguma
diferença entre o selo da bênção dada por um
Patriarca, pelo Selador dos Templos e por um Elder quando ministra aos
enfermos?
"Vemos que os portadores do Sacerdócio em
qualquer situação que são chamados para darem
bênçãos seja de conforto, paternas, designando a
chamados, ou quando ministram aos enfermos antes de terminarem dizem:
‘Selo estas bênçãos em sua cabeça em nome de
Jesus Cristo, Amém.’ Isto me soa um pouco estranho. Porque
embora eu tenha o Sacerdócio, não me foi conferido o
poder selador do Sacerdócio como aos Patriarcas e aos Seladores
dos Templos.
"Você poderia me orientar neste assunto?"
Segue uma versão editada da minha resposta original.
Excelente pergunta.
Vamos
direto ao assunto. Em primeiro lugar, vamos definir o que
é um "selo", também conhecido como "sinete" ou "chancela".
Um
selo é um símbolo ou um "texto fixo" oficial usado para
oficializar, autenticar, validar, ou confirmar um documento ou uma
ação. Na foto que afixei nessa postagem [veja versão em PDF],
vemos uma página de um antigo passaporte meu. Observamos
os diferentes selos usados para oficializar, autenticar, e confirmar o
passaporte. Os selos (1) oficializam o documento (o Selo Nacional do Brasil e as Armas Nacionais, ao fundo); (2) autenticam a sua expedição (o carimbo e assinatura do oficial consular); e (3) confirmam que os requisitos para tal expedição foram atendidos (o
carimbo e selos consulares informando o valor pago pela
expedição, e novamente o Selo Nacional confirmando que os
selos consulares são oficiais).
Selos têm
sido usados para tais propósitos desde a antiguidade.
Arqueólogos entendem que o uso de selos ou sinetes revelam a
presença de sociedades organizadas, com governos e
instituições estruturados através de leis e
regulamentos.
No evangelho restaurado de Jesus Cristo aprendemos
que selos são partes integrantes do governo do sacerdócio
no reino dos céus. O Senhor revelou o seguinte ao Profeta
Joseph Smith:
"Todos os convênios, contratos, vínculos, compromissos, juramentos,
votos, práticas, ligações, associações ou expectativas que não forem
feitos nem acertados nem selados pelo Santo Espírito da promessa, tanto
para esta vida como para toda a eternidade, por meio daquele que foi
ungido e isso também de maneira muito sagrada ... não terão eficácia,
virtude ou vigor algum na ressurreição dos mortos nem depois dela;
porque todos os contratos que não são realizados com esse propósito têm
fim quando os homens morrem." (Doutrina & Convênios 132:7)
Aqui
entendemos que qualquer ato oficial que realizamos na obra divina de
salvação e exaltação, por meio do poder e
autoridade do sacerdócio, precisa ser oficializado, autenticado
(ou validado), e confirmado. Chamamos essa
oficialização, validação, e
confirmação de "selamento pelo Santo Espírito da
Promessa", e o Espírito Santo é o membro da Deidade
encarregado dessa função de oficializar, autenticar, e
confirmar nossas pregações e ordenanças no
evangelho de Jesus Cristo, a fim de que as mesmas produzam os efeitos,
ou bênçãos, prometidas.
Como conseguimos que
o Espírito Santo oficialize, autentique, e confirme nossas
pregações e ordenanças? O Profeta Joseph
Smith explicou da seguinte forma:
"A alguns a doutrina de que falamos poderá parecer muito arrojada--um
poder que registra ou liga na Terra e liga nos céus. Contudo, em todas
as épocas do mundo, sempre que o Senhor deu uma dispensação do
sacerdócio a qualquer homem ou grupo de homens, por revelação real,
esse poder sempre foi dado.
"Por isso, tudo o que esses homens fizeram com autoridade em nome do
Senhor e fizeram-no verdadeira e fielmente, conservando um registro
fiel e adequado do mesmo, tornou-se lei na Terra e nos céus e, de
acordo com os decretos do grande Jeová, não podia ser revogado."
(Doutrina & Convênios 128:9)
Grande Joseph ...!
Consideremos
as ordenanças oficiais do sacerdócio da Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conforme listadas no Manual
Geral de Instruções:
- Dar nome e bênção a crianças
- Batismo
- Confirmação e recebimento do Espírito Santo;
- Administração do Sacramento
- Consagração do óleo
- Bênçãos a enfermos
- Concessão do Sacerdócio e ordenação a ofícios no sacerdócio
- Designações e bênçãos para líderes e professores
- Bênçãos de consolo e conselho
- Bênçãos paternas
- Dedicação de sepulturas
- Bênçãos Patriarcais
De
acordo com o Profeta Joseph Smith, qualquer pregação e
qualquer das ordenanças da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias citadas acima serão consideradas como
oficiais, autênticas, e confirmadas na terra e nos céus se
três requisitos forem obedecidos:
1.
A pregação ou ordenança foi realizada com
autoridade apropriada do sacerdócio em nome do Senhor.2. A pregação ou ordenança foi realizada verdadeira e fielmente (sem
falsidade, e seguindo cuidadosamente as instruções do
Conselho da Primeira Presidência e Quórum dos Doze--[Manual Geral 2020 - capítulo 18]) 3. Um registro fiel e adequado da pregação ou ordenança for criado e mantido.
Até
esse ponto tratamos de ordenanças da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias que podem ser oficiadas por qualquer
pessoa, desde que essa pessoa possua a autoridade apropriada do
sacerdócio.
Algumas dessas ordenanças requerem
aprovação prévia de um Bispo:
bênçãos de crianças;
confirmação e recebimento do Espírito Santo;
administração do sacramento; concessão do
sacerdócio e ordenação a ofícios no
sacerdócio; designações e
bênçãos para líderes e professores; e
dedicação de sepulturas. Outras ordenanças
podem ser oficiadas sem qualquer autorização
prévia, desde que o portador do sacerdócio esteja digno:
consagração do óleo; bênçãos a
enfermos; bênçãos de consolo e conselho; e
bênçãos paternas.
Outras ordenanças
do sacerdócio requerem ordenação ou
designação especiais para que possam ser oficiadas.
Eu costumo chamar tais ordenanças de "ordenanças do
reino", pois seus efeitos e promessas não são limitados
somente ao período da mortalidade, como no caso das
"ordenanças da Igreja".
Um homem precisa ser ordenado ao
ofício de Patriarca no Sacerdócio de Melquisedeque para
que possa proferir bênçãos patriarcais aos membros
de uma estaca. Homens e mulheres precisam ser investidos com poder do
alto (D&C 95:7-9; 105:10-12), aprovados por seus
respectivos bispos e presidentes de estaca, e depois aprovados e
designados pela presidência de um templo, para oficiar nas
ordenanças da Casa do Senhor. Um homem precisa ser aprovado pela
Primeira Presidência para ser designado para oficiar selamentos
de maridos e mulheres, e selamentos de filhos aos pais na Casa do
Senhor.
Estas "ordenanças do reino" são governadas
pelas mesmas leis que governam as "ordenanças da Igreja", ou
seja, seus efeitos estão condicionados à fé e
obediência tanto da pessoa que oficia como da pessoa que recebe a
ordenança. Se a ordenança for realizada com
autoridade apropriada do sacerdócio em nome do Senhor;
verdadeira e fielmente; tendo um registro fiel e adequado da
ordenança; e se a pessoa que recebeu a ordenança se
mantiver fiel, o Espírito Santo irá oficializar,
autenticar, e confirmar tais ordenanças, e no devido tempo do
Senhor os efeitos de tais ordenanças se tornarão
visíveis na vida da pessoa.
Ok ... moral da história:
1)
Usamos a palavra "selamento" quando nos referimos às
ordenanças sumamente sagradas da Casa do Senhor através
das quais homens e mulheres e seus filhos são unidos como casais
e filhos para o tempo e eternidade pela autoridade do sacerdócio
exercida por um Selador. Tal como todas as outras
ordenanças, estes selamentos de casais e filhos também
precisam ser eventualmente oficializados, autenticados, e confirmados
pelo Espírito Santo, ou seja, precisam ser selados pelo Santo
Espírito da Promessa (D&C 132:7, 19).2)
Fomos instruídos pela liderança geral da Igreja a usar o
verbo "Selar" após as unções aos doentes [Manual Geral 2020 - item 18.13.2].
Nesse caso, observemos que apenas a unção está
sendo selada, e não as palavras opcionais de
bênção, consolo, e conselho que o portador do
sacerdócio possa ter acrescentado à ordenança.3)
E no caso das outras ordenanças? Ao lermos o Manual
observamos que nenhuma das outras ordenanças do
sacerdócio requer o uso do verbo "selar". Nós
popularizamos o uso desse verbo por conta própria. Eu
não diria que é errado usar o verbo "selar" nesses
casos--eu mesmo já o usei inúmeras vezes--mas com certeza
podemos dizer que é completamente desnecessário
fazê-lo. (Posso imaginar que depois de ter escrito esse artigo eu vou pensar duas vezes antes de usar esse verbo dessa forma.)
Se cumprirmos os requerimentos listados pelo Profeta Joseph Smith (D&C 128:9),
o Espírito Santo fará a sua parte, independente do que
dissermos ou deixarmos de dizer naquela parte da ordenança na
qual podemos acrescentar palavras de bênção de
acordo com a inspiração que tivermos no momento.
Desde que o que dissermos seja verdadeiro--doutrináriamente
correto--e seja proferido por inspiração (D&C 68:2-6) e não plagiado, tudo vai estar bem.
Ao
concluirmos, invocamos a autoridade do Senhor Jesus Cristo para aquela
ordenança, e nossa fé nele será suficiente para
receber o efeito (as bênçãos) da ordenança
no devido tempo do Senhor. Lembremos aqui que a maior
invocação de poder que proferimos na Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias, não é quando
dizemos "eu selo", mas sim quando declaramos que estamos agindo
(orando, discursando, testificando, ensinando, aconselhando, ou
oficiando) "Em Nome de Jesus Cristo". Esta expressão
é sagrada, e por meio dela invocamos (reivindicamos, avocamos)
poder e autoridade divinos do Senhor Jesus Cristo. Podemos dizer que o
uso desta expressão permite que nosso ato receba a
atenção misericordiosa dos outros membros da Deidade.
Lamentavelmente, por ser uma expressão usada frequentemente,
corremos o risco de às vezes usá-la casualmente ou
apressadamente (e.g. "nomjesquistamém"), e até inapropriadamente, de forma quase humorística.
Duas
ordenanças do sacerdócio usam uma outra
invocação sagrada ainda mais significativa--quando o
portador do sacerdócio age em nome de todos os membros da
Deidade: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. E temos uma
outra invocação sagrada que inclui uma expressão
de poder ainda maior. Infelizmente, muitas vezes essa outra
invocação também é proferida
apressadamente, talvez de forma até impensada. A pressa de ir
embora do Templo pode fazer isso. Mas quem percebeu do que se
trata, e conseguiu vislumbrar o seu significado, profere tais palavras
com calma, reverência, respeito, e sentimento--invocando,
rogando, aquelas bênçãos.
Marcus
H. Martins é professor de religião e
liderança e ex-decano de educação
religiosa na Brigham Young University-Hawaii. Ele escreveu o livro
"Setting the Record Straight: Blacks and the Mormon Priesthood"
("Fazendo o Registro Correto: Negros e o Sacerdócio
Mórmon") e o
manuscrito "The Priesthood: Earthly Symbols and Heavenly Realities" ("O
Sacerdócio: Símbolos Terrenos e Realidades
Celestiais"). Ele discursou
em conferências e eventos nos Estados Unidos (onde vive desde
1990),
Brasil, China, Inglaterra, Hong Kong, Japão,
Malásia, Ilhas Marshall,
Portugal, Catar e Cingapura. O irmão Martins ingressou na
Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em 1972 e tornou-se
o primeiro
santo dos últimos dias com ascendência negra
africana a servir uma
missão de tempo integral após a
Revelação de 1978. Ele serviu duas
vezes como bispo, sete vezes como sumo conselheiro de estaca,
três
vezes como oficiante do templo, tradutor do Livro de Mórmon
e
presidente da Missão Brasil São Paulo Norte com
sua esposa, Mirian
Abelin Barbosa. O casal tem quatro filhos e oito netos.
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Marcus H. Martins, 2017 - Atualizado em 2020