Pais, Mães e Ordenanças:
Pensamentos para o Dia dos Pais
Marcus
H. Martins, Ph.D.
Versão editada de comentários informais proferidos online ao vivo
em 08 de agosto de 2021 (“Dia dos Pais” no Brasil)
Me recordo de um
Dia dos Pais no Rio de Janeiro, em 1965 ou 1966, no qual meu pai gravou
as palavras sábias de um vizinho de meu avô Francisco
Assis, o Sr. Oscar Veiga, sobre a paternidade. Lamentavelmente a fita
contendo a gravação foi perdida muitos anos atrás,
e eu só me recordo que meu pai e meus tios ficaram
impressionados com o que o Sr. Veiga disse, creio que inspirado pela
Luz de Cristo (Alma 29:8; Doutrina e Convênios 84:46).
Não
sou o Sr. Veiga, mas suponho que hoje eu tenho mais ou menos a idade
que ele tinha naquela ocasião, quase 60 anos atrás. E eu
possuo duas coisas muito mais preciosas que a sua sabedoria—eu tenho o
conhecimento do evangelho restaurado de Jesus Cristo, e tenho o
entendimento e convicção sobre o mesmo que me vêm
pela misericórdia de Deus através do poder do
Espírito Santo.
Com isso, o que posso dizer aos meus 62
anos de idade e quase 50 anos de discipulado em Cristo, sobre os
pais—e, por conseguinte sobre suas companheiras, as mães, sem as
quais eles não desfrutariam da honra da paternidade?
Como
vocês bem sabem, de todos os títulos que o Deus
todo-poderoso poderia ter escolhido para uso contínuo, Ele
determinou que nós nos dirigíssemos a ele usando o
título “Pai”. Conforme instruídos pelo próprio
Salvador Jesus Cristo nos dirigimos ao pai em orações
pessoais usando o termo “Pai” (Mateus 6:9; 3 Néfi 13:9; 17:14; 18:19-21; 19:7-8, 20-23, 27-29)
ou “Pai Celestial”, ou alguma variante desses termos. E por
revelação e instrução divina dada dois mil
anos atrás, usamos “Deus, Pai Eterno” na ordenança do
sacramento (3 Néfi 18:1-14; Morôni 4-5).
Tal como Maria, mãe de Jesus, as mães são “vasos escolhidos” do Senhor (Alma 7:10).
Vasos são recipientes de barro, por vezes adornados, aonde
cultivamos plantas ornamentais. Vasos também são
recipientes de vidro ou cristal fino aonde mantemos flores. As
mães escolhem seus companheiros—esperamos que livremente—com
quem se tornarão “vasos” através dos quais fluirá
o poder do sacerdócio divino necessário para a
geração de uma nova vida humana “à imagem e
semelhança de Deus” (Gênesis 1:26-27; Moisés 6:8-10; Éter 3:14-16). As mães consagram os seus corpos, em linguagem angélica, “tabernáculos de barro” (Mosias 3:5),
e com os cuidados proporcionados a um cristal precioso, geram uma nova
vida que esperamos venha a se tornar um ornamento para o mundo.
Se tudo correr bem, algum tempo após o parto, por mandamento divino (D&C 20:70)
os pais portadores do sacerdócio de Melquisedeque, têm o
privilégio de exercer a sua autoridade como élderes da
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e
abençoar aquela criancinha em nome de Jesus Cristo.
Permitam-me abrir um longo parêntese neste ponto, e enfatizar algo sobre o que venho falando desde 2018.
Por
favor, não mudem os nomes das ordenanças divinas.
Não usem termos criados pelos homens para descrever
ordenanças reveladas por Deus. O Profeta Joseph Smith ensinou
que “ordenanças instituídas nos céus ...
não devem ser alteradas nem mudadas” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja—Joseph Smith, p.439),
e como eu estou em minha casa e não numa reunião oficial
da Igreja, me permitam expandir esse ensinamento e sugerir que nem
mesmo os nomes das ordenanças devem ser modificados, a
não ser por revelação divina àqueles
escolhidos e ordenados para servir como profetas, videntes e
reveladores (D&C 21:1-5; 28:1-7).
Vejo um
número crescente de pessoas chamando a
bênção de criancinhas de
“apresentação” e o sacramento de “comunhão”. Sem
dúvida o fazem com boa intenção, pois desejam usar
uma linguagem familiar para parentes e amigos que pertençam a
outras igrejas. No entanto, eu digo que ao fazê-lo, perdemos uma
preciosa oportunidade missionária. Ao usar o linguajar de outras
igrejas, induzimos nossos parentes e amigos a concluir erroneamente que
a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é
“mais ou menos igual” às igrejas deles.
Por outro lado,
ao usarmos o linguajar oficial, que é baseado nas escrituras e
revelações divinas, geramos curiosidade. Levamos nossos
parentes e amigos a indagar: “O que é isso? O que é essa ‘bênção’ em uma criancinha?”
E daí o Espírito Santo poderá começar a
agir na mente daquelas pessoas até convencê-las a nos
perguntar a respeito disso. E se tivermos bom-senso, responderemos
simplesmente: “Deus existe, e
é um Pai perfeitamente amoroso. Por isso, tal como nos tempos da
Bíblia, ele chamou profetas em nossos dias e enviou mensageiros
dos céus para trazer de volta à terra o poder que Jesus
Cristo usava para abençoar as criancinhas 2000 anos
atrás. E Deus nos ordenou que usássemos esse poder hoje
em dia para continuar abençoando as criancinhas.”
Se essa pessoa for um dos “eleitos” do Senhor (D&C 29:7) ela poderá indagar, tal como o Rei Lamôni no Livro de Mórmon, “Que poder é esse?” (Alma 18:20) ou então similarmente como o pai do Rei Lamôni, “O que é um profeta? E como e quando Deus deu essa ordem sobre as criancinhas?” (Alma 22:5-6). E mais uma vez, se tivermos bom-senso, responderemos simplesmente: “Olha,
eu quero muito compartilhar com você tudo o que eu sei sobre
isso. E eu ficarei honrado se você aceitar o meu convite para nos
reunirmos com os missionários da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias. São jovens rapazes e
moças que receberam o chamado divino para ensinar oficialmente
sobre essas coisas que você está me perguntando.”
Fecho
aqui meu parêntese, muito embora eu poderia falar ainda mais
sobre como uma mudança não-oficial nos nomes das
ordenanças pode abrir uma "fresta na porta" da apostasia.
Voltando
aos pais e mães, podemos supor que a bênção
proferida pela autoridade do sacerdócio sobre uma criancinha (D&C 20:70)
seria a versão terrena e mortal de uma
bênção celestial e eterna que certamente
teríamos recebido antes de partir da segurança e
plenitude de luz divina de nosso lar pré-mortal, partida essa
que nos fez esquecer quiçá milhões de anos de
experiências e memórias gloriosas obtidas na
presença de nosso Pai e Mãe Celestiais.
Agora,
aqui na terra mortal, precisamos obter experiências e
memórias preciosas na presença de nossos pais e
mães terrenos. Lamentavelmente, milhões de
crianças não têm essa oportunidade, e até
mesmo entre os santos dos últimos dias vemos
situações em que pais e mães, por
inexperiência ou traumas passados, não exercem esse
chamado divino da forma ideal decretada por Deus.
Com sua
expiação, Jesus Cristo pagou pelos erros desses pais e
mães, e um dia irá compensar todas as perdas desses
filhos (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja—Joseph Smith, pág. 54).
Para
aqueles pais e mães que se esforçam por fazer o melhor
que podem de acordo com as revelações de profetas,
ensinamentos inspirados de líderes da Igreja, e palavras de
sabedoria obtidas nos melhores livros (D&C 88:118),
a sua missão é a de preparar suas crianças para um
dia se tornarem eles próprios pais e mães, levando
adiante o grande plano divino de salvação e estendendo a
mais uma geração as bênçãos da
mortalidade e eventual ressurreição preparadas e
garantidas por Jesus Cristo (Éter 3:14-16).
Essa
preparação é feita no lar e suplementada pela
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Seguindo o
exemplo de Adão e Eva, pais e mães ensinam as palavras de
vida eterna a seus filhos (João 6:68; Moisés 6:57-59) e
lhes informam os mandamentos e expectativas de Deus sobre
oração, obediência, retidão, batismo,
imposição das mãos, adoração
semanal, e trabalho (D&C 68:25-30; Moisés 5:12; 6:57-59).
Eventualmente,
pais e mães prepararão seus filhos para receberem as
ordenanças que compõem a investidura na Casa do Senhor.
Recebemos as ordenanças da investidura como
preparação para a vida eterna (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja—Joseph Smith, pág. 439),
e não meramente para servir uma missão de tempo integral
ou para um selamento matrimonial no templo. A investidura é
essencial, e suas bênçãos são eficazes nas
nossas vidas, independente de um serviço missionário em
tempo integral, ou de um selamento matrimonial (D&C 105:10-12; 124:39).
Com
a investidura, pais e mães completam os principais requisitos
sob o seu encargo para que seus filhos se qualifiquem para receber a
vida eterna. Digo “requisitos sob o encargo dos pais”,
pois a mais completa preparação para a vida eterna
somente ocorrerá no futuro, ao longo de muitos e muitos anos,
sob a influência “adjutória” de um bom cônjuge (Gênesis 2:18; Moisés 3:18),
unido a cada filho e filha pela autoridade do sacerdócio na Casa
do Senhor. Mas esse é outro assunto que já abordei em
outras ocasiões.
Se há 60 anos atrás o Sr.
Veiga conhecesse o evangelho restaurado de Jesus Cristo, talvez tivesse
proferido palavras como essas. Mas hoje vocês ouviram as palavras
do Irmão Martins. Quem sabe essas minhas palavras poderão
ser repetidas por algum de vocês, ainda jovens hoje, de uma forma
muito mais refinada e poderosa lá pelo ano 2081?
Dr.
Marcus H. Martins é professor de religião e de
liderança e ex-decano na Brigham Young University-Hawaii. Serviu
como tradutor, oficiante do templo, sumo conselheiro, bispo e
presidente de missão.
Estes comentários informais
não constituem uma declaração oficial de A Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
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Marcus H. Martins, 2021