A Doutrina do Sacerdócio e Questões de Gênero
Marcus H. Martins, Ph.D.
Apresentado num forum de professores de religião na
Brigham Young University - Provo, Utah - 25 Fevereiro 2016
Quando
eu tinha 16 anos meu pai me instruiu a aprender a realizar as
ordenanças do Sacerdócio Aarônico--o batismo por
imersão, a administração do sacramento, e o
conferimento do Sacerdócio Aarônico. Embora naquele
momento, em 1975, ele e eu não pudéssemos portar o
sacerdócio, meu pai ainda assim me disse para estudar as
ordenanças, porque, como ele disse, "Isso é o que um
jovem de 16 anos de idade deve aprender na Igreja nessa idade."
Assim começou meu estudo do sacerdócio, suas ordens,
ofícios, chaves, ordenanças, direitos, etiqueta, e
bênçãos.
Meu
pai e eu recebemos o sacerdócio em 1978, dez dias após o
anúncio da revelação de que reinstituiu a
ordenação ao sacerdócio para homens santos dos
últimos dias com ascendência africana negra. Desde
então, tive a honra de servir várias vezes em
designações de liderança do sacerdócio, o
que fez meus estudos tornarem-se ainda mais significativos para
mim. Depois de quatro décadas eu ainda estou estudando,
mas o que eu aprendi até agora me trouxe muito esclarecimento e
satisfação.
Delineando a Doutrina do Sacerdócio
O
Livro de Mórmon contém declarações precisas
que definem os componentes principais da doutrina de Cristo--fé
em Jesus Cristo, arrependimento, batismo por imersão, a
imposição das mãos para o dom do Espírito
Santo, e perseverança na obediência aos mandamentos de
Deus até o fim (2 Néfi 31: 10-21; 3 Néfi 11: 31-39).
Por outro lado, o termo "doutrina do sacerdócio" é
encontrado apenas uma vez nas escrituras atualmente disponíveis,
em uma carta inspirada do profeta Joseph Smith à Igreja
registrada como seção 121 de Doutrina &
Convênios. Mas, ao contrário da doutrina de Cristo,
essa única instância não é uma
afirmação direta definindo a doutrina do
sacerdócio.
No
entanto, através das revelações dadas ao Profeta
Joseph Smith registradas principalmente em Doutrina &
Convênios e em alguns de seus sermões inspirados, podemos
identificar certos componentes da doutrina do sacerdócio.
Através dessas revelações e ensinamentos,
aprendemos o seguinte:
- "Os direitos do sacerdócio são inseparavelmente ligados com os poderes do céu," (Doutrina & Convênios 121:36)
e esses poderes podem ser manipulados, ou o sacerdócio pode ser
"ativado" e devidamente exercido através de várias
virtudes ou "princípios de retidão": persuasão,
longanimidade, brandura, mansidão, amor não fingido,
bondade, conhecimento puro, caridade, e virtude (D&C 121:41-42, 45).
- Esses
princípios de retidão também orientam o
exercício da autoridade do sacerdócio na obra de
salvação, proibindo expressamente hipocrisia ou
falsidade, dolo ou fraude, e compulsão. Em última
análise, o governo do sacerdócio é fundamentado
nos valores imutáveis de retidão e verdade (D&C 121:42, 46).
- A
tomada de decisões nos quóruns do sacerdócio
é para ser praticada por conselhos a níveis geral e local
(D&C 102:1-2; 107:33-34, 36). Suas
deliberações serão abençoadas com
inspiração divina quando os membros do conselho
empregarem as qualidades de retidão, santidade, humildade de
coração, mansidão, longanimidade, fé,
virtude, conhecimento, temperança, paciência, piedade,
bondade fraternal e caridade (D&C 107:30-31). E as decisões desses conselhos deve ser tomadas em unanimidade (D&C 107:27).
- A
instituição divina do casamento, iniciado em templos pela
autoridade do sacerdócio, é uma ordem adicional do
sacerdócio chamada "o novo e eterno convênio do casamento"
(D&C 131:2). Consequentemente, a razão
determina que a tomada de decisões e a liderança nas
famílias instituidas pelo sacerdócio devem seguir os
mesmos "princípios de retidão" mencionados anteriormente
como sendo empregados na liderança do sacerdócio e na
tomada de decisões na Igreja.
Então, o que compreendemos sobre o sacerdócio, com base em revelações dos últimos dias?
O
sacerdócio é uma investidura concedida aos homens em
todas as eras do mundo, pelo qual eles podem acessar e manipular os
poderes do céu (D&C 121:36) para agir em
nome de Deus na obra divina de salvação. Organizado
em ordens (como "departamentos") e ofícios correspondentes, e
treinados em quóruns e grupos, portadores do sacerdócio
podem realizar trabalhos, oficiar e administrar ordenanças e
seus convênios associados, e todas as outras coisas
necessárias para a salvação eterna da
família humana na presença de Deus.
Depois
de quase dois milênios de apostasia, o sacerdócio foi
trazido de volta à terra em nossa época por mensageiros
celestiais (D&C 13; 27:8, 12) agindo em nome e com
a autoridade de Jesus Cristo. O sacerdócio foi, é,
e sempre será necessário para o estabelecimento e governo
da Igreja de Jesus Cristo em qualquer era da história
humana. A obra de salvação não pode ser
implementada sem o sacerdócio, porque somente por meio das
ordenanças do sacerdócio pode o poder da divindade se
manifestar para a bênção, salvação, e
exaltação da família humana (D&C 84:19-21).
O sacerdócio é conferido por meio do poder do Espírito Santo (D&C 20:60),
e é através do poder do terceiro membro da Trindade que
aqueles ordenados a ofícios no sacerdócio podem oficiar
em nome do Senhor (2 Néfi 32:9; Moroni 3:1-4).
Como o poder do Espírito Santo é constante, incessante,
ou sempre disponível, sempre que um portador do
sacerdócio age dignamente e de forma adequada dentro de seu
ofício designado, ele se conecta com o poder celestial e
obtém a autoridade necessária para executar o que o
Senhor achar apropriado. E se um registro adequado de tal
desempenho for mantido, o efeito desse ato transcenderá tempo e
espaço, e será validado nos céus (D&C 128:9).
O
sacerdócio emana dos mundos eternos--regiões imortais e
glorificadas onde a nobreza dos céus se engaja no trabalho
infindável de organizar, rebaixar, redimir, e glorificar mundos
sem fim e seus inúmeros ocupantes, sejam eles espíritos,
seres humanos mortais, seres humanos transladados, ou as
inúmeras formas de vida animal e vegetal. O poder do
sacerdócio está em toda parte e governa todas as coisas (D&C 88:13).
Na terra, quando exercido em retidão, sua autoridade permite a
manipulação dos poderes do céu (D&C 121:36)--os
poderes que dão e governam a vida, a luz, e permitem que seres
divinos, e aqueles seres mortais autorizados e inspirados a agir em seu
nome com fé, exerçam controle sobre o espaço, a
matéria e, possivelmente, o próprio tempo, de acordo com
a vontade de Deus (Helamã 12:8-17; 3 Néfi 26:3; D&C 121:12; Abraão 2:8).
A mais elevada e mais sagrada expressão do poder e autoridade do
sacerdócio é encontrada na criação,
redenção e glorificação de todas as formas
de vida--especialmente na criação, redenção
e exaltação da vida humana (D&C 88:17-20, 25-26; 77:2-3).
A Igreja, o Templo, e o Reino
Na
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, encontramos
duas das ordens do sacerdócio--o Sacerdócio de
Melquisedeque e seu apêndice, o Sacerdócio Aarônico,
que inclui o antigo Sacerdócio Levítico (D&C 107:1).
Com esses sacerdócios a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias se torna um repositório terreno--e seus
líderes os guardiões--das chaves do sacerdócio,
definidas como o direito de presidir e as autoridades
necessárias para destravar bênçãos e
privilégios adicionais. Estas são as chaves do Reino de
Deus na terra, que podemos entender como sendo a agência baseada
no sacerdócio que comanda a organização temporal,
governo, e salvação da terra.
Como
fez nos tempos antigos, o Senhor tem inspirado seus profetas dos
últimos dias a estabelecer sua casa sagrada, o templo, com as
suas ordenanças e padrões, dirigidos e realizados pela
autoridade do sacerdócio. A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias é a porta de entrada para a casa
do Senhor, e por meio de suas reuniões, aulas e atividades, a
Igreja prepara os indivíduos e as famílias para serem
dignos de entrar no templo e receber o conhecimento, ordenanças,
e convênios necessários para, num dia futuro,
permitir-lhes ganhar admissão no reino dos céus.
No
templo homens e mulheres santos dos últimos dias fiéis
reencenam rituais sagrados simbólicos, performances,
ordenanças, e fazem convênios sagrados, todos concebidos
para conceder-lhes ou investi-los com o conhecimento necessário
para estarem preparados para entrar na mais alta ordem do
sacerdócio. Eventualmente, quando um homem e uma mulher se
apaixonam e tornam-se marido e mulher selados para o tempo e eternidade
pela autoridade do sacerdócio na casa do Senhor, eles entram
juntos na mais alta ordem do sacerdócio: o novo e eterno
convênio do casamento (D&C 130:2),
também conhecido como a divina ordem patriarcal.
Através da admissão à esta ordem, muitas
bênçãos e direitos do sacerdócio são
transmitidos através de sua linhagem familiar direta (Abraão 2:9, 11).
Esta
mais alta ordem do sacerdócio não é exercida em
reuniões e atividades da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, mas pode ser exercida de forma limitada no
lar. A noite familiar e os conselhos de família podem ser
entendidos como "reuniões do sacerdócio da ordem
patriarcal", enriquecidos, assim esperamos, por doutrinas e
princípios ensinados nas aulas semanais fornecidas pelos
quóruns e organizações auxiliares da Igreja.
Todas
as coisas de significado e efeito eternos são encontradas e
baseadas no conhecimento, ordenanças, e convênios
ensinados e administrados na casa do Senhor. Daí a
centralidade da freqüência e adoração no
templo na vida religiosa dos santos dos últimos dias.
Na
terra o sacerdócio tem diferentes ordens (como "departamentos"),
quóruns e grupos, e também organizações
auxiliares, responsáveis pela implementação e
desempenho de vários elementos da fase mortal do plano divino de
salvação: a pregação da palavra de Deus, a
administração de convênios sagrados através
de vários rituais simbólicos, ou ordenanças, e
outras bênçãos--tanto materiais como
espirituais--necessárias para a saúde e o bem-estar
mortal. É concebível que possam existir ordens
adicionais do sacerdócio ainda a serem reveladas, mas seja
lá quantas venham a existir, todas elas são projetadas
para enobrecer, salvar e glorificar tantos membros da família
humana quanto aceitem as leis, convênios, e ordenanças
divinos. O Presidente Brigham Young explicou o seguinte a respeito do
sacerdócio:
"O Sacerdócio de Deus, que foi dado aos antigos e é dado aos homens nos
últimos dias, é co-igual em duração com a eternidade ... É imutável em
seu sistema de governo e em seu Evangelho de salvação. Ele dá aos
Deuses e aos anjos a sua supremacia e poder, e oferece riqueza,
influência, posteridade, exaltações, poder, glória, reinos e tronos,
incessantes na sua duração, a todos que os aceitarem nos termos em que
são oferecidos. " (Discursos de Brigham Young, p.49)
Uma vez que o sacerdócio é recebido e opera em conjunto com o poder do Espírito Santo (D&C 20:60; 121:45-46),
o ensinamento do Élder Parley P. Pratt sobre o efeito do dom do
Espírito Santo sobre a mente e emoções humanas
pode muito bem descrever como os "princípios de retidão"
da doutrina do sacerdócio podem ser ativados e reforçados
numa pessoa mortal:
"Um ser
inteligente, à imagem de Deus, possui cada órgão, atributo, sentido,
simpatia, afeto, vontade, sabedoria, amor, poder e dom, que são
possuídos pelo próprio Deus. Mas estes são possuídos pelo homem em seu
estado rudimentar ... Ou em outras palavras, esses atributos estão em
embrião; e devem ser gradualmente desenvolvidos. ...
"O dom do Santo
Espírito adapta-se a todos estes órgãos ou atributos. Ele vivifica
todas as faculdades intelectuais, aumenta, alarga, expande e purifica
todas as paixões e afeições naturais; e as adaptam, pelo dom da
sabedoria, ao seu uso legítimo. Ele inspira, desenvolve, cultiva e
amadurece todas as simpatias, alegrias, gostos, sentimentos afins e
afeições mais refinados da nossa natureza. Ele inspira virtude,
benignidade, bondade, ternura, gentileza e caridade." (Key to
the Science of Theology, pp.100-101)
A Interação entre o Corpo, o Espírito, e o Sacerdócio
O
corpo é a primeira mordomia que recebemos quando entramos na
mortalidade, e muitos dos principais aspectos do plano de
salvação dependem do uso virtuoso do corpo. Algumas
de nossas atividades terrenas são destinadas a manter a
saúde física, mental, e emocional do corpo. Da
mesma forma, o corpo também é necessário para
realizar rituais que retratam "sombras e protótipos" daquelas
funções necessárias para a vitalidade de nossos
espíritos imortais.
O
Senhor pouco revelou a respeito da interação entre o
corpo e o espírito, mas é claro que existe uma
interação poderosa e constante, que causa efeitos
mútuos que podem ser reconhecidos mais claramente depois que a
pessoa tiver sido batizada com água e fogo (Moisés 6:64-65).
Adicione-se o poder do sacerdócio à essa
combinação de corpo humano, espírito humano, e o
poder do Espírito Santo, e teremos algo maior do que a soma de
suas partes: além de ser meramente uma alma viva, a pessoa pode
tornar-se um santo, como explicado por um mensageiro celestial:
"... [O] homem natural é inimigo de Deus ... a não ser que ceda ao
influxo do Espírito Santo, e despoje-se do homem natural e torne-se
santo pela expiação de Cristo, o Senhor, e torne-se como uma criança,
submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a
submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que infligir, assim como uma
criança se submete a seu pai." (Mosias 3:19)
Alguns
têm lutado em suas tentativas de viver os princípios,
mandamentos e padrões do evangelho restaurado, mas uma vez que
eles entendam o que realmente está acontecendo, essa luta pode
ser percebida mais como um privilégio do que um fardo. O plano
divino eleva lentamente os filhos e filhas de Deus de meros homens e
mulheres a um estado de santificação.
No
futuro, por meio da perseverança fiel após o recebimento
de ordenanças terrenas, esses filhos e filhas santificados
serão elevados ainda mais através do poder da
ressurreição a um estado glorificado de divindade.
Assim, o desafio que enfrentamos é o de "...deixar as coisas
deste mundo e buscar as coisas de um melhor" (D&C 25:10).
Ou, colocando em um linguajar diferente, deixar de lado certos aspectos
da nossa humanidade e abraçar primeiro a santidade, e um dia, a
divindade.
A Inevitabilidade do Sacerdócio
Outro
aspecto da doutrina do sacerdócio digno de
elaboração é o fato de que o poder do
sacerdócio é universal, e suas leis divinamente
instituídas são imutáveis e inevitáveis. As
revelações declaram o seguinte:
"A todos os
reinos se deu uma lei; E há muitos reinos; pois não existe espaço em
que não haja reino; e não existe reino em que não haja espaço ... E a
todo reino é dada uma lei; e toda lei também tem certos limites e
condições. Todos os seres que não se conformam a essas condições não
são justificados." (Doutrina e Convênios 88:36-39).
Posteriormente o Profeta Joseph Smith elaborou sobre este ponto dizendo o seguinte:
"A organização dos mundos espirituais e celestes e dos seres
espirituais e celestes foi feita de acordo com a mais perfeita ordem e
harmonia: seus limites e termos foram irrevogavelmente determinados e
voluntariamente aceitos por eles próprios, no estado celeste, e também
por nossos primeiros pais na Terra. Por isso é importante que todos os
homens aqui na Terra que esperam alcançar a vida eterna aceitem os
princípios da verdade eterna e se submetam a eles." (Ensinamentos
dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.222)
As
leis e os princípios do sacerdócio foram estabelecidos
éons atrás em esferas mais elevadas e mais
santas--ambientes além da concepção mortal nos
quais Deus opera e onde ele "...compreende todas as coisas e todas as
coisas estão diante dele e todas as coisas estão ao seu
redor; e ele está acima de todas as coisas e em todas as coisas
e através de todas as coisas e ao redor de todas as coisas; e
todas as coisas existem por ele e dele, sim, Deus, para todo o sempre" (D&C 88:41).
Devido a esta origem imortal e glorificada, não é de
admirar que certas leis e princípios da doutrina do
sacerdócio podem parecer "difíceis" de serem
compreendidos e subscritos por mortais acostumados com pontos de vista
e filosofias comprometidos pelas limitações naturais da
mortalidade.
A
correta compreensão da nossa verdadeira natureza como seres
humanos depende da correta compreensão da natureza
imutável do próprio Deus e da natureza inevitável
dos poderes pelos quais a vida humana é criada e
governada. O Profeta Joseph Smith declarou:
"Quero voltar ao
princípio--à manhã da criação. Lá está o ponto de partida para
olharmos, a fim de compreendermos e ficarmos totalmente familiarizados
com a mente, propósitos e decretos do Grande Elohim ... É necessário
termos uma compreensão do próprio Deus no princípio. Se começarmos
corretamente, é fácil ir corretamente o tempo todo; mas se começarmos
errado, podemos continuar errados, e será difícil acertar. ...
"Se o homem não
compreende o caráter de Deus, não compreende a si mesmo. Quero voltar
ao princípio e assim erguer sua mente a uma esfera mais elevada e a uma
compreensão mais sublime do que aquelas às quais a mente humana
geralmente aspira." (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith,
p.343; Ensinamentos dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.43)
As
leis divinas estabelecidas pelo sacerdócio, e as virtudes e
princípios de retidão deles derivados, desafiam a
humanidade a olhar para o céu, para "uma esfera mais elevada,"
e, lentamente, começar a conceber a sua verdadeira natureza como
prole eterna da divindade. O convite do Profeta Moroni: "...vinde
a Cristo, sede aperfeiçoados nele e negai-vos a toda
iniqüidade ..." (Moroni 10:32) significa
precisamente o propósito final do sacerdócio na
terra--elevar a humanidade na direção da divindade.
Questões de Gênero, à Luz da Doutrina do Sacerdócio
Talvez
alguns dos temas contemporâneos mais sensitivos na sociedade
estão relacionados com gênero (i.e. masculino ou
feminino), que nas últimas décadas foram trazidos para o
primeiro plano de muitos debates políticos, legais e
sociais. Após o foco nos direitos das mulheres e a
igualdade das mulheres na vida econômica e política, agora
vemos um foco na reafirmação dos direitos de cidadania de
homossexuais e transgêneros.
Como a doutrina do sacerdócio lançaria luz sobre estas preocupações?
As Mulheres e o Sacerdócio
Em
algumas das primeiras revelações nesta
dispensação o Senhor indicou que um passo
necessário para o estabelecimento de seu reino na terra era que
o povo precisava ser "investido de poder do alto" por meio das
ordenanças da Casa do Senhor, o templo (D&C 38:38; 43:16; 105:11-12).
Todo
santo dos últimos dias digno, homem ou mulher, que recebe a sua
própria investidura recebe simbolicamente esse "poder do alto",
que será usado para fortalecer a capacidade da pessoa de guardar
os mandamentos de Deus e ser um discípulo de Jesus Cristo mais
refinado e eficaz. Praticamente as mesmas ordenanças que
homem fiel recebe no templo, serão recebidas por uma mulher
fiel. Assim, as ordenanças da casa do Senhor funcionam
como um grande equalizador entre os dois sexos, concedendo as mesmas
bênçãos e honras, e uma igual promessa de
exaltação, para homens e mulheres.
Ao
nos concentrarmos na expressão "investidos de poder do alto,"
nossas mentes, eventualmente, chegam à ideia de que o principal
"poder do alto" é o sacerdócio de Deus. Assim,
podemos compreender corretamente que quando uma mulher santa dos
últimos dias fiel recebe sua própria investidura, ela
recebe o sacerdócio de Deus, mas com uma diferença
significativa: ela não é ordenada a qualquer dos
ofícios do sacerdócio na Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos dias.
Pode-se
perguntar como isso pode acontecer. O processo foi descrito em uma
visão dada ao Presidente Joseph F. Smith, em 1918, na qual ele
viu que os espíritos dos justos foram organizados, designados
como mensageiros, e "vestidos de poder e autoridade" (D&C 138:30 – No original em Inglês, "clothed with power and authority").
Nós encontramos um processo semelhante na casa do Senhor.
Esta é parte da restauração da "antiga ordem das
coisas", como o Profeta Joseph Smith a chamou (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja--Joseph Smith, p.436),
visto que vestimentas especiais eram usadas simbolicamente nos tempos
antigos para representar autoridade e investiduras sacerdotais (Êxodo 40:13-14).
Quando
mulheres santas dos últimos dias fiéis recebem suas
próprias ordenanças do templo, elas também
são simbolicamente vestidas de poder e autoridade, que é
a natureza da investidura. No entanto, uma vez que estas mulheres
fiéis não são ordenadas a nenhum dos
ofícios do sacerdócio na Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias, elas não podem oficiar as
ordenanças de salvação da Igreja--batismo,
confirmação, sacramento, etc.
Por
outro lado, podemos dizer que o templo e a Igreja são
"departamentos separados e desiguais" no reino de Deus, considerando
que eles são regulamentados por padrões diferentes. A
Igreja constrói e mantém templos, mas os templos operam
com padrões e regulamentos muito mais elevados e mais rigorosos
do que aqueles empregados em capelas da Igreja.
E
assim é que, enquanto na Igreja as mulheres não
são ordenadas a ofícios no sacerdócio, em um
templo elas podem ser devidamente recomendadas e designadas para
exercer o sacerdócio--ou aquele "poder do alto" que elas
receberam em sua própria investidura--e oficiar algumas das
ordenanças da casa do Senhor. Portanto, mulheres santas
dos últimos dias fiéis que sintam o desejo de prestar
serviço através da realização de
ordenanças do sacerdócio pela imposição das
mãos, podem consultar seus bispos e inquirir sobre como
tornarem-se oficiantes de ordenanças no templo.
A
doutrina do sacerdócio expande nossa compreensão e
apreciação do papel vital e sagrado das mulheres no plano
de salvação do Senhor. Embora as mulheres
não sejam ordenadas a ofícios no sacerdócio na
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ainda assim
podemos afirmar de forma adequada que elas possuem a chave da mais
elevada e mais sagrada característica da divindade--a
criação e educação de uma nova vida
mortal. Na verdade, muitas vezes eu me pergunto se a maternidade
não poderia um dia ser revelada como sendo uma ordem adicional
do sacerdócio.
Vendo
isso como uma possível chave do sacerdócio,
inevitavelmente, nos levaria a uma visão mais elevada e mais
sagrada da feminilidade, e a elevar as mulheres a "uma esfera mais
elevada," (usando as palavras de Joseph Smith). Nesta esfera mais
elevada a sacralidade inerente de uma mulher seria demonstrada
simbolicamente pelo fato de ela ser "coberta". Ao invés de
menosprezante, sob este ponto de vista aquele gesto simbólico
seria enobrecedor e exaltante.
Através
do ministério da palavra de Deus as mulheres também
ajudam outros a "... [desfrutar] as palavras da vida eterna neste mundo
e a vida eterna no mundo vindouro, sim, glória imortal" (Moisés 6:59; colchetes adicionados).
Por este meio, mesmo aquelas mulheres que não forem
abençoadas com a capacidade de trazer filhos para a vida mortal,
ainda poderão receber o título elevado de "Mães em
Israel", trazendo "filhos de criação" para a vida eterna.
Mais
adiante, no futuro, podemos imaginar mulheres glorificadas nutrindo
seres recém-ressuscitados que morreram quando ainda
criançinhas, e permitindo a exaltação e vida
eterna de outras mulheres. A doutrina do sacerdócio,
quando apropriadamente compreendida, eleva as mulheres a um status
reverenciável no reino de Deus.
O Casamento e as Uniões do Mesmo Sexo
A
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias apoia a
idéia de que a cidadania ou os direitos constitucionais devem
ser afirmados para todos, quando se referem a habitação,
emprego, saúde e outros aspectos puramente seculares da vida em
uma sociedade. No entanto, várias sociedades modernas
decidiram recentemente que os direitos de cidadania também devem
incluir o direito ao casamento do mesmo sexo.
Tal
idéia só poderia ser considerada consistente sob uma
abordagem puramente secular, focalizando unicamente no direito
constitucional de acesso aos serviços do governo. Ou, em outras
palavras, se alguém secularizasse, redefinisse e degradasse a
instituição do casamento ao nível de um simples
"serviço governamental", então poderia ser justificado
dizer que nenhum contribuinte deveria ser privado desse serviço
público. E sob essa abordagem exclusivamente secular, a
posição da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias sobre casamento e família seria
difícil de entender, e para alguns, indefensável.
Mas
é precisamente aqui que a doutrina do sacerdócio nos
permite compreender a posição firme da Igreja sobre esta
questão. Se Deus não existe, então a
expressão de qualquer desejo, apetite, ou paixão humanos
poderia ser defendida sob a bandeira dos direitos individuais.
Mas, no fundamento da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, encontramos o testemunho do Profeta Joseph Smith
de que os céus se abriram e que na verdade existe um Deus, um
ser real, tangível, com um corpo imortal e glorificado de carne
e ossos, que é o Pai Eterno de nossos espíritos.
Esse testemunho nos leva a entender que existem aspectos da nossa
experiência humana que são divinamente estabelecidos, e
que não podem ser alterados pelas volúveis leis e
costumes da sociedade.
Algum tempo atrás eu escrevi o seguinte em um ensaio publicado online:
"Aqui vemos uma
das grandes diferenças entre as filosofias do mundo e as doutrinas do
evangelho restaurado de Jesus Cristo. As teorias científicas atuais,
baseadas em ferramentas imperfeitas e limitadas, só conseguem ver o ser
humano como uma forma superior de vida animal. As revelações recebidas
das cortes de glória eterna por profetas de Deus nos levam, pela fé, a
ver o ser humano como uma forma inferior de vida divina.
Por outro lado,
os poderes e capacidades do corpo podem ser utilizados de formas não
inteiramente em harmonia, ou até contrárias às leis e princípios
divinos. Ao fazer isso uma pessoa descobre sensações físicas e emoções
exageradas que,ainda que "agradáveis" ao corpo, não elevam a pessoa,
não constroem um alicerce para a eternidade, e em alguns casos reduzem
a pessoa a um mero servo de desejos, apetites, e paixões que por
decreto divino devem ser mantidos dentro de certos limites
estabelecidos por Deus." (Martins, "O Corpo: Primeira
Mordomia & Liahona do Espírito", 2014).
O
corpo tem tremendos poderes físicos e intelectuais, apetites, e
paixões que precisam ser adequadamente controlados, e existem
formas divinamente ordenadas para controlar o corpo humano e as suas
capacidades. Uma vez que cada capacidade humana deve ser
expressada com moderação, como pode alguém
descobrir esses limites divinamente estabelecidos? Mais uma vez,
nas palavras do Élder Parley P. Pratt, "O dom do Santo
Espírito adapta-se a todos estes órgãos ou
atributos. Ele vivifica todas as faculdades intelectuais,
aumenta, alarga, expande e purifica todas as paixões e
afeições naturais; e as adaptam, pelo dom da sabedoria,
ao seu uso legítimo." (Key to the Science of Theology, p.101)
Ainda
há muito a ser compreendido cientificamente sobre as
funções fundamentais do cérebro humano--que em
última análise gera e controla os desejos, apetites e
paixões do corpo. No entanto, o que quer que venha a ser
descoberto no futuro, podemos estar certos de que a doutrina do
sacerdócio, quando apropriadamente compreendida, poderá
nos guiar com segurança no exercício do nosso
arbítrio para usar o corpo de maneiras que estarão em
harmonia com as leis eternas divinamente designadas.
"Duro é Este Discurso; Quem o Pode Ouvir?" (João 6:60)
As
estipulações do plano divino de salvação
sempre têm sido desafiadoras para muitos no mundo. Por
exemplo, o Apóstolo João registrou que, após o
Salvador Jesus Cristo ter proferido o seu sermão "o Pão
da Vida", alguns dos discípulos acharam os ensinamentos do
Salvador "duros" e "Por causa disso muitos dos seus discípulos
voltaram para trás e não andaram mais com ele." (João 6:66)
Esse
tipo de resposta negativa não deve ser visto como incomum,
porque mesmo no ambiente pré-mortal, antes da
fundação desta terra, um terço dos
espíritos designados para esta terra também rejeitou
certas condições do plano divino de
salvação e partiram--para nunca mais voltar, e os
céus prantearam por eles (D&C 76:26).
Mas,
em seu ministério mortal, o Salvador fez uma pergunta
significativa, que ensinou seus discípulos fiéis a
confiar em seu testemunho dele e de seu evangelho:
"Perguntou então
Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?
"Respondeu-lhe
Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da
vida eterna." (João 6:68-69)
E
assim é conosco hoje em dia. As estipulações
do plano de salvação continuam a desafiar muitos pelo
mundo a fora. Alguns dos nossos queridos irmãos e
irmãs têm encontrado dificuldade em colocar de lado suas
inclinações sócio-políticas e
filosóficas a fim de abraçar plenamente a
posição da Igreja sobre o casamento e a família.
Pessoalmente, eu acredito que a dificuldade pode ser baseada em ainda
não terem compreendido as vistas gloriosas e enobrecedoras
oferecidas pela doutrina do sacerdócio concernente ao casamento
e à família.
Que
o bom Senhor abra olhos e toque corações, de modo que a
doutrina do sacerdócio destile nas almas das pessoas, e elas se
qualifiquem para um dia entrar na glória de seu Pai Eterno.
Marcus
Helvécio Martins serviu como Decano de
Educação Religiosa na Universidade Brigham
Young-Havaí. Ele é o autor do livro "Setting the Record
Straight: Blacks and the Mormon Priesthood" ("Fazendo o Registro
Correto: Negros e o Sacerdócio Mórmon"), e serviu como
presidente de missão, duas vezes como bispo, sete vezes como
membro de sumo conselhos de estaca, e três vezes como oficiante
do templo. Ele e sua esposa Mirian são pais de quatro filhos e
avós de oito netos.
As
opiniões e interpretações incluídas nesta
monografia são de responsabilidade do autor, e não devem
ser consideradas declarações oficiais da Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Copyright - Marcus H. Martins, 2016