“Nele Vivemos, e nos Movemos, e Temos
nossa Existência”:
Um “Entrelaçamento Quântico” com Jesus
Cristo
Marcus H. Martins, Ph.D.
Conferência de Páscoa da BYU - 11 de abril de 2025
Há quase 25 anos,
venho enfatizando a divindade de Jesus Cristo em palestras e devocionais. Como
sou um apaixonado por ciência desde a infância, tenho frequentemente observado
como, como disse Alma, o Filho: “... todas as coisas [denotam] que existe um
Deus; sim, até mesmo a Terra e tudo que existe sobre a sua face, sim, e seu
movimento, sim, e também todos os planetas que se movem em sua ordem regular
testemunham que existe um Criador Supremo.[1]”
Hoje à noite,
compartilharei insights sobre como um conceito “exótico” da Mecânica Quântica, “Entrelaçamento
Quântico”, fornece — pelo menos superficialmente — uma metáfora interessante e
útil sobre nosso acesso à graça e ao poder divino do Senhor Jesus Cristo.
Na física, o
conceito de “entrelaçamento quântico” é o fenômeno no qual — e estou
simplificando bastante aqui — duas partículas se ligam de tal forma que
compartilham certas propriedades, independentemente das distâncias astronômicas
que as separam.
Convido você a se unir
a mim em um breve exercício mental, atravessando uma brecha secular criada pelos
homens entre ciência e doutrina.
Dividi minhas
observações em cinco partes:
1.
As
origens do meu tópico
2.
Uma
definição de “entrelaçamento com Jesus Cristo”
3.
O processo de entrelaçamento com Cristo
4.
Efeitos
práticos de um entrelaçamento com Cristo
5.
O
papel da Igreja neste “entrelaçamento”
As Origens
do Tópico
Ao pensar no tema
desta conferência, “Vida em Cristo”, continuei pensando no testemunho do
apóstolo Paulo de que “[Nele] vivemos, e nos movemos, e [temos nossa
existência] ... Porque também somos sua geração[2]”.
Associando isso ao
nosso compromisso sacramental semanal de “lembrar-nos sempre dele, para que
[possamos] ter o seu Espírito conosco[3]”,
perguntei a mim mesmo: Como nos lembramos de Jesus Cristo? Como o compreendemos?
Salvador, Senhor, Redentor, Amigo Celestial, Irmão Mais Velho ...? Deus?
Essa pergunta está
em minha mente desde que discursei num devocional sobre esse assunto em 2001, e
estou feliz que, quase um quarto de século depois, tenho esta oportunidade de
não apenas revisitar o tópico, mas também de compartilhar meus pensamentos em
um nível muito mais profundo aqui na minha “alma mater”.
Deixe-me explicar
o que quero dizer com “nível muito mais profundo”. Há alguns meses, eu estava
programado para ser o orador de encerramento numa reunião sacramental. Devido a
atrasos inevitáveis durante a reunião, me restaram pouquíssimos minutos para
discutir o tema que me fora designado, a “restauração contínua”.
Enquanto pensava
em como dar à congregação, em 2 ou 3 minutos, uma “imagem mental” da essência
do meu tópico, lembrei-me daquelas bonecas russas, as Matryoshkas, que são
aninhadas uma dentro da outra, em muitas camadas, como as camadas de uma
cebola.
Então, em meus
breves comentários, eu disse que, quando consideramos a noção de tamanhos
menores em relação a uma ferramenta, digamos, uma chave de fenda, uma faca ou
um bisturi cirúrgico, vemos que quanto menor o tamanho, maior a precisão e a
capacidade de executar trabalhos de alta precisão.
Expliquei então
que a restauração da plenitude do evangelho também procede dessa forma, com o
Senhor revelando níveis cada vez mais profundos de entendimento sobre como
aplicar os princípios e exercer as chaves do sacerdócio.
E isso nos leva às
minhas reflexões sobre a profundidade do nosso relacionamento com o Salvador
Jesus Cristo. Ele disse em revelações modernas:
“[Atendei] à voz do Senhor vosso Deus,
cuja palavra é viva e poderosa, mais [cortante] que uma espada de dois gumes, [para
a divisão de] juntas e medulas, alma e espírito; e [é discernidora
dos] pensamentos e as intenções do coração.[4]”
Aplicando essa
noção de precisão à nossa discussão, podemos dizer que a palavra do Senhor,
falada legalmente, em verdade, com autoridade divina, pode afetar o nível mais
profundo e mais preciso da natureza — um nível no qual o espírito imortal e a
matéria mortal interagem de maneiras ainda não totalmente compreendidas pelos
humanos mortais.
O testemunho de
Alma, o Filho, de que “… todas as coisas [denotam] que existe um Deus; sim, até
mesmo a Terra… e também todos os planetas…[5]”
nos deixa com a compreensão de que “estamos cercados de elementos simbólicos na
natureza que, uma vez estudados em detalhes, podem nos dar uma visão mais ampla
sobre Deus, seu reino, nosso relacionamento familiar com ele e as glórias que
ele tem reservado para nós por meio de seu plano de salvação”.
Portanto, “[várias]
disciplinas acadêmicas podem nos ajudar a aprender detalhes sobre todas essas
expressões e elementos simbólicos usados nas escrituras e em outros textos e
narrativas sagrados. … [Todas fornecem entendimentos detalhados que podem se
tornar informações vitais para o nosso estudo do evangelho restaurado de Jesus
Cristo]. Então, através do poder do Espírito Santo, podemos ampliar nossa
compreensão de como eles funcionam como símbolos no currículo de Deus para
salvação e exaltação; como eles nos ajudam a compreender a linguagem da Deidade
e, talvez, até como poderíamos exercitar melhor nosso discipulado e a
autoridade do sacerdócio na obra divina de salvação.[6]”
Uma
definição de “Entrelaçamento com Jesus Cristo”
Através de
revelação moderna, o Senhor declarou que podemos realmente desfrutar de um
relacionamento muito especial com Ele.
“Porque a palavra
do Senhor é a verdade; e tudo que é verdade é luz; e tudo que é luz é Espírito,
sim, o Espírito de Jesus Cristo.
“E o Espírito ilumina a todo homem que vem
ao mundo;
“E o Espírito ilumina a todo homem no
mundo que dá ouvidos [à voz do Espírito].
” E todo
aquele que [atende] à voz do Espírito vem a Deus, sim, o Pai.[7]”
A melhor parte é
que não se trata de um relacionamento exclusivo para alguns santos dos últimos
dias que pagariam 11% do dízimo. Pelo contrário, essa Luz ou Espírito de Jesus
Cristo está disponível em diferentes graus de “magnitude” ou “brilho” para toda
a humanidade — na verdade, para toda a vida na Terra.
“Eis que eu sou [do alto] e meu poder jaz
abaixo. Eu estou sobre tudo, e em tudo, e através de tudo, e [esquadrinho]
todas as coisas ... [Eu sou] a verdadeira luz que está em vós e ... vós estais
em mim; caso contrário, não poderíeis [plenificar].[8]”
“Para que todos sejam um; como tu, ó Pai,
és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós ... E eu dei-lhes a
glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um: Eu neles, e tu
em mim, para que sejam [tornados perfeitos em um], e para que o mundo reconheça
que tu me enviaste a mim, e que os amaste a eles como tu me amaste a mim.[9]”
Agora, conectando
essas passagens das escrituras ao nosso conhecimento científico atual, podemos
entender como participar da natureza divina, ou como alguém pode acessar o
poder celestial, usando como analogia o conceito de “entrelaçamento quântico”
da física, o fenômeno no qual — e, mais uma vez, estou simplificando — duas
partículas se tornam conectadas de tal forma que compartilham certas
propriedades, independentemente das distâncias astronômicas que as separam.
Com isso em mente,
volto minha atenção para as escrituras que se referem ao nosso relacionamento
com Deus Pai e o Senhor Jesus Cristo, ou como a vida mortal está
inextricavelmente e inevitavelmente ligada ao poder de Deus.
O apóstolo Paulo
ensinou que “[Nele] vivemos, e nos movemos, e [temos nossa existência] ...
Porque também somos geração dele[10]”.
O apóstolo João declarou: “Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em
nós; porquanto nos deu do seu Espírito[11]”.
O apóstolo Pedro falou dos discípulos de Cristo como sendo “… participantes da
natureza divina, havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no
mundo[12]”.
O Élder Bruce R.
McConkie interpretou a expressão “participantes da natureza divina” como
significando “tornar-se como Deus, desfrutando plenamente de cada
característica, perfeição e atributo que ele possui e que habita nele
independentemente[13]”.
Como essa bênção só pode ser desfrutada em sua plenitude na ressurreição,
enquanto isso, pode-se, num grau infinitesimal, desfrutar das características,
dos atributos e até mesmo do poder de Deus ao agir com a devida autoridade sob
a influência do Espírito Santo na obra da salvação.
O Processo
de Entrelaçamento com Cristo
O profeta Joseph Smith ensinou
que “Espírito é uma substância ... é material, mas é ... matéria mais pura,
elástica e refinada do que o corpo ... existia antes do corpo, pode existir no
corpo, e existirá separado do corpo[14]”.
Ele também explicou :
“Todas as coisas que Deus, em Sua infinita
sabedoria, considerou convenientes e adequadas para revelar-nos, enquanto
estamos habitando na mortalidade, referentes a nosso corpo mortal, [nos são
reveladas no] abstrato [e] ... são reveladas a [nossos espíritos] precisamente
como se não tivéssemos corpo algum; e as revelações que salvarão [nossos
espíritos salvarão nossos corpos].[15]”
Sendo assim, poderíamos então
conjecturar que essa instrução divina ocorreria naquele nível mais profundo,
onde nosso espírito pré-mortal interage com a carne, os ossos e os nervos
mortais (não tenho certeza quanto ao sangue). Na mortalidade, a Luz de Cristo
proporcionaria a conexão, análoga ao entrelaçamento quântico, entre o espírito
celestial e o corpo terreno.
A luz se intensificaria ainda
mais após a ordenança do batismo, quando um portador do Sacerdócio de
Melquisedeque pronuncia as palavras “Receba o Espírito Santo” na
ordenança da imposição de mãos, permitindo assim que o novo converso “[venha a
ser] vivificado no homem interior[16]”,
como aconteceu com nosso Pai Adão. O entrelaçamento com Cristo seria ainda mais
fortalecido pelo recebimento do sacerdócio — seja pela imposição de mãos ou
pela investidura do templo — com a possível resultante “[santificação] pelo
Espírito para a renovação de [nossos] corpos[17]”,
conforme prometido como parte do Juramento e Convênio do Sacerdócio.
Uma vez que o “homem interior” seja
vivificado [isto é, ativado; energizado], então o acesso aos poderes
celestiais seria facilitado, incluindo dons espirituais — profecia, línguas,
vidência, cura, etc. O jejum seria então um recurso pelo qual alguém pode
exercer um “foco intecional”, de modo que o entrelaçamento com Cristo seria
fortalecido.
O Profeta Joseph
Smith ensinou: “O Espírito Santo é o mensageiro de Deus para administrar em todos esses
sacerdócios.[18]” Podemos considerar o
poder do Espírito Santo como o elo, ou “onda portadora” da Divindade. E quanto
mais forte for a conexão entre o espírito e a carne por meio da Luz de Cristo e
fortalecida pelo dom do Espírito Santo, mais facilmente acessíveis serão os
dons espirituais, de acordo com a vontade divina.
Rodeados e
penetrados pela Luz de Cristo, temos os meios para uma
conexão com Cristo dentro de nós, análoga em alguns aspectos ao entrelaçamento
quântico. Nossos corpos, no nível mais fundamental, são compostos de
partículas subatômicas que podem ser entrelaçadas com as do próprio Senhor. Uma
vez entrelaçados com Cristo, Ele então nos dará acesso ao entrelaçamento com o
Pai. Pouco antes de ir para o Getsêmani, o Salvador prometeu o seguinte:
“[Porque eu vivo,] vós vivereis. Naquele
dia sabereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
“Aquele que tem os meus mandamentos e os
guarda, esse é [aquele que] me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai,
e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
“Disse-lhe Judas [não o Iscariotes]:
Senhor, [como] hás de [te] manifestar a nós e não ao mundo?
“Respondeu Jesus: Se alguém me ama,
guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos faremos
[nossa morada com ele].[19]”
Devo fazer uma
pausa aqui e reconhecer que o Profeta Joseph Smith explicou que “A aparição do
Pai e do Filho, naquele versículo, é uma aparição pessoal; e a ideia de que o
Pai e o Filho habitam no coração do homem é uma antiga noção sectária e é falsa[20]”.
Nesta palestra, estou apresentando a ideia de que, por meio de um processo
análogo ao entrelaçamento quântico, essa “manifestação pessoal” é literal, mas
não envolve necessariamente movimento no espaço.
Tomando novamente como analogia o conceito
de entrelaçamento quântico — novamente, partículas “conectadas” apesar de
separadas por distâncias astronômicas — nos permite pensar que talvez a
expressão “presença de Deus” possa se referir a uma “condição de acesso a Ele por
poder”, e não exclusivamente ao movimento físico para um “local no espaço” onde
o Senhor possa estar fisicamente presente.
Além disso, o
conceito de entrelaçamento também pode nos permitir ter uma melhor compreensão
da declaração bíblica: “Pai, Filho e Espírito Santo são um Deus, infinito e
eterno, sem fim[21]”. Três
indivíduos “conectados” ou “entrelaçados” pelo poder divino em tal magnitude
que cada membro da Deidade é um Deus e age em perfeita harmonia com os outros
dois membros.
Efeitos Práticos
de um Entrelaçamento com Cristo
Ao considerarmos
as implicações práticas dessas ideias na vida cotidiana, descobrimos que temos
excelentes notícias para o mundo inteiro. A influência divina, nossa conexão ou
entrelaçamento com Cristo, já está dentro de nós. Seja quem formos, onde quer
que vivamos, quaisquer que sejam as nossas circunstâncias, um entrelaçamento
com o poder de Cristo está presente. Com a provável exceção daqueles condenados
à perdição, mesmo a alma mais perversa do mundo tem uma conexão permanente e
prontamente disponível com Cristo dentro de si.
A poetisa do
século 19, Elizabeth Barrett Browning, pareceu descrever a onipresença do poder
celestial na Terra em um belo poema:
“A Terra está saturada com o céu,
E
todo arbusto comum resplandece com Deus,
Mas
somente quem percebe tira os sapatos;
O
restante senta e colhe amoras silvestres,
E
emplastram seus rostos naturais desatentos.[22]”
Mesmo durante a chamada era das
trevas, sempre houve centelhas de luz divina guiando cada pessoa através desse
entrelaçamento, apesar da influência avassaladora das superstições.
Eu me pergunto se os vários
discípulos transladados do Senhor[23]
foram enviados a indivíduos-chave ao longo dos tempos para aumentar a magnitude
desse entrelaçamento, criando assim as condições para descobertas científicas,
progresso pessoal e comunitário e até mesmo conversões ainda desconhecidas para
nós.
Assim aconteceu
com Alma, o filho, a quem Mórmon descreveu como “um homem muito iníquo e
idólatra[24]”, e
seus amigos, Amon, Aarão, Omner e Himni, também descritos como “os mais vis
pecadores[25]”.
Alma, o Filho, ensinou mais
tarde que uma “redenção preparatória” teria permitido que homens e mulheres
sábios de todas as eras tivessem um “primeiro contato” com o poder do Espírito
Santo, mesmo antes de terem tido a oportunidade de receber as devidas
ordenanças de salvação.
“E este é o modo pelo qual foram ordenados—sendo
chamados e preparados desde a fundação do mundo, segundo a presciência de Deus,
por causa de sua grande fé e suas boas obras, sendo primeiramente livres para
escolherem o bem ou o mal; portanto, tendo escolhido o bem e exercendo uma fé
muito grande, são chamados com [um santo chamado], sim, com [aquele santo
chamado que foi preparado com, e de conformidade com] uma redenção preparatória
[para tal].[26]”
De acordo com essa
analogia com o entrelaçamento quântico, para chegar a Cristo não é preciso
fazer peregrinações a santuários distantes, nem recorrer ao contorcionismo
físico. Um anjo explicou ao Rei Benjamim que basta “[ceder aos atrativos] do Santo
Espírito ... [despojar-se] do homem natural e... [tornar-se] santo pela
expiação de Cristo, o Senhor[27]”.
Princípios de Retidão Obtidos por Entrelaçamento
Outra
percepção que obtemos da discussão anterior é que quando estamos “entrelaçados” com o Salvador, características como
amor, bondade, gentileza, benevolência, virtudes, princípios e sabedoria
possuídos em forma perfeita por Jesus Cristo “fluirão” ao nosso próprio ser, e
essas qualidades que nos esforçamos para incorporar primeiro por emulação,
eventualmente evoluem para uma transformação, pois somos, como Morôni declarou,
“moldados e purificados pelo poder do Espírito Santo[28]”.
É aqui que
o terreno se associa com o celestial no exercício da autoridade do sacerdócio.
Como o acesso ao poder do sacerdócio depende não apenas de cerimônias
simbólicas, vestimentas e linguagem sagrada, mas também da prática dos
princípios de retidão revelados pelo Profeta Joseph Smith, à medida que nos entrelaçamos
com Cristo, nosso ministério se torna poderoso, a ponto de sermos capazes de
realizar milagres de acordo com a vontade de Deus. Talvez alguns dos maiores
milagres possam ser meramente sentidos e não visíveis — o milagre de ver como
Ele vê e sentir como Ele sente a respeito do propósito da vida e do valor
infinito das pessoas ao nosso redor. Milagres nas vidas das pessoas a quem
servimos. Vidas que serão abençoadas e transformadas além das expectativas
mortais pelo fluxo sempre-presente do poder celestial, administrado pelo
Espírito Santo, e que eventualmente alcançarão a salvação e a exaltação
eternas.
O apóstolo João
sugeriu que essas e outras demonstrações de poder celestial têm origem no puro
amor de Cristo. Ele escreveu: “Se [amamos] uns aos outros, Deus [habita] em
nós, e o seu amor é aperfeiçoado em nós.[29]”
Por meio dessas
passagens, aprendemos que podemos receber a manifestação do poder do Senhor em
nossas vidas se agirmos retamente e amorosamente em nossos chamados individuais
ou familiares. Quando realizamos esses atos, o Senhor nos permite experimentar
a manifestação do Seu Santo Espírito, manifestação essa que equivale a ter Deus
“habitando” em nós.
Esta é a
essência do exercício da autoridade do sacerdócio na obra da salvação — seja em
quóruns, organizações, conselhos, templos ou famílias. Quando fazemos o bem aos
outros como o Senhor faria, emulando e estendendo aos outros as bênçãos, o
caráter e o amor de Jesus Cristo, por meio do perdão, da compaixão e da
paciência, então veremos o cumprimento da grande promessa de ter “o Espírito
Santo [como] um companheiro constante [isto é, firmemente resoluto; fiel;
invariável; regular] e (…) um cetro imutável de retidão e (…) um domínio
eterno, [que] sem meios compulsórios … fluirá [a nós] para todo o sempre”.[30]
O Papel da
Igreja no Entrelaçamento
Alguns podem
perguntar: “Estando entrelaçados com Cristo num nível tão profundo, qual
seria a necessidade de frequentar as reuniões da igreja? Por que precisaríamos
de uma organização eclesiástica?”
Novamente,
lembramos as palavras do apóstolo Paulo:
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e
outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres, para o aperfeiçoamento dos santos ... para a edificação do corpo de
Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de
Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo[31]”
Nas últimas duas
décadas, tenho definido a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
como o repositório terreno de oráculos, doutrinas, princípios, leis, convênios
e ordenanças revelados dos céus, e dos sacerdócios com suas chaves associadas,
necessárias para ensinar essas doutrinas, princípios e leis, para oficiar
ordenanças e administrar seus convênios associados.[32]
O Profeta Joseph
Smith ensinou:
“O relacionamento que temos com Deus nos
coloca em condições de avançar em conhecimento. Ele tem poder para instituir
leis para instruir as inteligências mais fracas, para que possam ser exaltadas
com Ele mesmo, de modo a terem glória sobre glória e todo o conhecimento,
poder, glória e inteligência exigidos para salvá-las no mundo espiritual. Isso
é doutrina sã. Tem gosto bom.[33]”
Ao procurar “instruir as inteligências
mais fracas” — nós, seus filhos — o Senhor emprega representações simbólicas de
realidades celestiais.
A
mente mortal não consegue compreender completamente como água, pão, vinho,
azeite, roupas, cerimônias, música, gestos, nomes e certos utensílios interagem
com os poderes dos céus por meio da graça proporcionada pela expiação e sob a
autoridade do santo sacerdócio, para nos entrelaçar com Cristo e permitir-nos
receber a honra e a glória de ter “[Ele] em [nós] … para que [sejamos]
aperfeiçoados em unidade[34]”
De alguma forma invisível aos nossos olhos mortais e
misteriosos à nossa compreensão mortal, pelo poder da fé esses elementos
simbólicos efetivamente nos entrelaçarão com Cristo. Independentemente de
entendermos ou não, confiamos nele e, assim como o apóstolo Pedro, “lançamos as
nossas redes[35]”
e colhemos as bênçãos.
Isso requer foco intencional,
não apenas presença e atenção nas reuniões da Igreja, mas também “anseio”.
Eu me pergunto se foi isso que
Mórmon quis dizer quando declarou que quando os Doze que o Salvador havia
escolhido entre os nefitas e lamanitas oraram no meio do fogo celestial, “eles
ficaram cheios de anelo [desejo][36]”.
A ideia de entrelaçamento com o
Salvador nos leva a compreender que o compromisso sacramental de sempre
lembrá-lo deve envolver mais do que um momentâneo “Ah, sim, Jesus vive. Eu o
amo “.
O entrelaçamento exigiria que
esses momentos de lembrança também se tornassem momentos de reflexão nos quais
poderíamos nos perguntar:
·
Como está sendo meu
exercício da disciplina do discipulado até agora nesta manhã?
·
Há algo que eu deva
refinar na parte da tarde?
·
Existe alguma
tarefa difícil ou tarefa desconfortável para a qual eu deva pedir ajuda
celestial?
Conclusão
Vivemos no que o Profeta Joseph
Smith descreveu como o período mais glorioso da história da Terra antes da
segunda vinda do Salvador Jesus Cristo. Ele declarou:
“[Somos] o povo abençoado que Deus escolheu para
trazer à luz a glória dos últimos dias; cabe a nós ver, participar e ajudar a
levar adiante a glória dos últimos dias, “a dispensação da plenitude dos
tempos,” na qual Deus reunirá todas as coisas em uma, “tanto as que estão nos
céus, como as que estão na terra;” quando os santos de Deus serão reunidos de
todas as nações, e tribo, e língua e povo; quando os judeus serão ajuntados num
só grupo ...
“O Espírito de Deus também habitará com seu povo ...
e [todas as coisas quer nos céus ou na terra estarão reunidas, precisamente] em
Cristo. O Sacerdócio celestial unir-se-á ao terrestrial para realizar esses
grandes propósitos ...
“Uma obra que Deus e os anjos
[contemplaram] com júbilo por muitas gerações [passadas]; que [inflamou] as
almas dos antigos patriarcas e profetas; que está destinada a efetuar a
[destruição] dos poderes das trevas, a renovação da terra, a glória de Deus e a
salvação da família humana.[37]”
O presidente Russell M. Nelson profetizou em outubro de
2022:
“Em dias vindouros, veremos as maiores
manifestações do poder do Salvador que o mundo já viu. Entre agora e o tempo em
que ele retornar ‘com poder e grande glória’, ele concederá inúmeros
privilégios, bênçãos e milagres sobre os fiéis.[38]”
Com base na minha discussão, talvez a maior de todas
essas manifestações não aconteça no sol, na lua ou no movimento dos
continentes, montanhas e vales. Eu sugeriria que a manifestação mais
significativa do poder do Salvador poderia ser a que ele orou ao Pai antes do
Getsêmani:
“Para que todos sejam um; como tu, ó Pai,
és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós ... E eu dei-lhes a
glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um: Eu neles, e tu
em mim, para que sejam [tornados perfeitos em um], e para que o mundo reconheça
que tu me enviaste a mim, e que os amaste a eles como tu me amaste a mim.[39]”
Marcus H.
Martins é professor emérito e ex-decano de educação religiosa na Brigham Young
University-Hawaii. Ele escreveu o livro “Setting the Record Straight: Blacks
and the Mormon Priesthood” (“Fazendo o Registro Correto: Negros e o Sacerdócio
Mórmon”) e o manuscrito “The Priesthood: Earthly Symbols and Heavenly
Realities” (“O Sacerdócio: Símbolos Terrenos e Realidades Celestiais”). Discursou
em conferências e eventos nos Estados Unidos (onde vive desde 1990), Brasil,
China, Inglaterra, Hong Kong, Japão, Malásia, Ilhas Marshall, Portugal, Catar e
Cingapura. O irmão Martins ingressou na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias em 1972 e tornou-se o primeiro santo dos últimos dias com
ascendência negra africana a servir uma missão de tempo integral após a
Revelação de 1978. Ele serviu duas vezes como bispo, sete vezes como sumo
conselheiro de estaca, três vezes como oficiante do templo, tradutor do Livro
de Mórmon e presidente da Missão Brasil São Paulo Norte com sua esposa, Mirian
Abelin Barbosa. O casal tem quatro filhos e oito netos.
[1] Alma 30:44 – colchetes com
tradução alternativa
[2] Atos
17:28
[3] Doutrina
e Convênios 20:79
[4] Doutrina
e Convênios 33:1 (tradução
alternativa);
ver também Apocalipse 1:16; Hebreus 4:12; D&C 6:2
[5] Alma 30:44
[6] Martins, O Terceiro
Século de uma Religião Inteligente - Palestra solene
na Brigham Young University-Hawaii – 11 de fevereiro de 2020
[7] Doutrina e Convênios
84:45-47 -
colchetes com tradução alternativa
[8] D&C 63:59; 88:50 - colchetes
com tradução alternativa
[9] João 17:21-23 - colchetes com
tradução alternativa
[10] Atos
17:28
[11] 1 João 4:13
[12] 2 Pedro 1:4
[13] Bruce R. McConkie, Doctrinal
New Testament Commentary (Comentário Doutrinário do Novo Testamento), 3:353
[14] Ensinamentos
do Profeta Joseph Smith, p.203; Doutrina e Convênios 131:7-8
[15] Ensinamentos
do Profeta Joseph Smith, p.347
[16] Moisés 6:65 - tradução
alternativa
[17] Doutrina e Convênios 84:33 – colchetes adicionados com
tradução alternativa
[18] Ensinamentos
do Profeta Joseph Smith, p.315
[19] João 14:19-23 – colchetes adicionados com
tradução alternativa
[20] Doutrina e Convênios 130:3
[21] Doutrina
e Convênios 20:28; também 2 Néfi 31:21; Mórmon 7:7
[22] Elizabeth
Barrett Browning, Aurora Leigh , sétimo livro
[23] Doutrina e Convênios 7:6;
49:8; Alma 45:17–19; 3 Néfi 1:2–3; 2:9; 28:25–33; Mórmon 8:10–11; Morôni
7:31–32; Moisés 7:69
[24] Mosias 27:8
[25] Mosias 28:4
[26] Alma 13:3 - tradução
alternativa
[27] Mosias 3:19 - tradução
alternativa
[28] Morôni
6:4
[29] 1 João 4:12 - tradução
alternativa
[30] D&C 121:46 - colchetes
adicionados para aplicação.
[31] Efésios 4:11-13
[32] Martins, An
Inevitable Paradox: Establishing a 'Peaceable Habitation' in a Violent World, palestra
solene na Brigham Young University-Hawaii – 08 de setembro de 2005
[33] Ensinamentos
dos Presidentes da Igreja—Joseph Smith, p219; Ensinamentos do Profeta Joseph
Smith, p.346
[34] João 17:23 – colchetes
adicionados com uma adaptação
[35] Lucas 5:5
[36]3 Néfi 19:13-18, 24-26, 30
– colchetes com tradução alternativa
[37] Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p.226-227 - tradução alternativa
[38]
Conferência Geral da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Outubro de 2022
[39]João 17:21-23 - tradução
alternativa